Até bem pouco o governo central configurava um amplexo negativista, em relação à pandemia, insinuando soluções simples. Os momentos mais desesperadores da população foram encarados com radicalismo omissivo perante a tragédia mundial, com todas as firulas ensaiadas desde o tratamento precoce até afirmações do presidente contrariando a gravidade da situação com a progressão do coronavírus. Não faltaram afirmações quixotescas e provocativas diante da população alarmada com a desgraça que bateu ruidosa em nossa porta, nos lares, nas ruas, nos ambientes de trabalho nos educandários, no campo e na cidade. O coro de sabujos de uma imprensa minoritária fez ecoar o desdém oficial, repetindo expressões como gripezinha, falta de coragem do povo contaminado. Mesmo depois que um consenso mundial alertou para a necessidade da novidade que se apresentava através da vacina, o mesmo tumultuado vozerio do mal apregoava defeitos nas doses que surgiram inicialmente. Toda sorte de mentiras foram maldosamente semeadas em tom de zombaria. A tese esdrúxula da imunização de rebanho e remédios ineficazes alinhavam-se em contrariedade ao exitoso serviço farmacêutico e médico. A pesquisa inédita e prestativa era desprezada como forma de afirmar a renitência no curandeirismo do presidente. Episódio deprimente, sem razões científicas, lançava loas contra a vacina Coronavac que se apresentou pioneiramente para socorrer. Mas foi esta que chegou, correndo atrás do tempo para a vacinação. Vieram as vacinas de outros laboratórios de pesquisa, felizmente. A oposição oficial e pitoresca do Planalto, sob a influência louca de Trump, logo foi desmascarada. Mas, em meio aos corpos sepultados, vieram as vacinas. As mentiras continuaram. Pura maldade, em busca de suposto prestígio eleitoral que, sinceramente, é o demérito vicioso.
Emergência
Prossegue o pensamento degenerado no ninho bolsonarista fanático, a proposta de consignar tudo em prol das eleições do ano que vem. O fato de preconizar possível vantagem perante o eleitorado não é em si condenável. O que torna isso execrável é abdicar da fidelidade ao interesse público incontornável e fatal diante da pandemia. Agora o governo atua no sentido de reconhecer a situação de emergência que enseja novas formas de garantir ajuda aos mais pobres. Mas, vejam bem, as mortes de milhares de brasileiros não sensibilizaram ou suscitaram comoção presidencial, que nem máscara recomendou ao povo que o elegeu para a missão. A emergência já é legalmente reconhecida, mas faltava o assentimento humanístico, no sentido de abraçar a causa de salvação sanitária brasileira. O presidente foi longe demais em suas aleivosias, e continua buscando protagonismo ridículo. O ministro Paulo Guedes foi direto no ponto e assume a via de rompimento do teto de gastos para viabilizar o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família. A promessa de ajuda ao povo para vencer a pobreza extrema precisa, logicamente, ser implementada. Se depende de manobra política ou orçamentária, que seja feito de uma vez, mesmo se sabendo que o governo visa a disputa eleitoral. A fome e falta de condições de vida de fato impõem solução imediata. Mas até esta providência de cunho eleitoral vem contaminada pela morosidade. A mesma falta de patriotismo que determinou letargia nas vacinas repercute agora em nó górdio orçamentário. A sombra do negacionismo que quis ludibriar a fé pública dizendo que a pandemia era apenas uma gripezinha evitou providências num regime de legalidade fiscal em tempo hábil. Pois bem, mesmo com meios tortuosos do ponto de vista orçamentário, que venha a ajuda ao povo, o mesmo que vai pagar tudo isso ao longo de muitos anos. Mas, para isso precisa sobreviver. Está aí mais uma incompetência do governo federal, que vai gravar com muitos custos os cofres públicos por uma ajuda que poderia ser melhor planejada. É esse o ritmo, próprio da democracia, que apresenta seus defeitos, mas possibilita salvar o essencial que é a dignidade do povo. Esta é a prioridade, como é a vacina.