OPINIÃO

Vinte e oito de outubro de 1974

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Vinte e oito de outubro de 1974 foi uma segunda-feira. Em Passo Fundo, o Sol nasceu por volta das 5h42. Um pouco antes, em meio à cantoria dos sabiás, o termômetro da estação meteorológica localizada no canteiro central da Avenida Brasil Oeste, nas proximidades do Instituto Educacional, marcava 16,0 °C. A temperatura subiria gradativamente: às 9h, 21,0 °C, e, no meio da tarde, chegaria a 27,8 °C. Um dia primaveril típico, não fosse pela agitação fora do comum que tomava conta da cidade. Os soldados do pelotão especial do Exército estavam de prontidão. Acampados na sede da Embrapa. E havia uma razão: a visita do general Ernesto Geisel.

Por volta das 10h45, o Avro da FAB pousou no Aeroporto de Carazinho. A bordo o presidente da república, general Ernesto Geisel, e sua comitiva, que incluía os ministros da agricultura, Alysson Paulinelli, do trabalho, Arnaldo Prieto, o chefe do gabinete militar, general Hugo Abreu, e o presidente da Embrapa, Irineu Cabral. Na pista, poucas autoridades, conforme as orientações de segurança, com destaque para: o prefeito de Carazinho, Ernesto Keller Filho, e o governador do Estado, Euclides Triches. Do aeroporto, direto para a granja do médico Ingrieberg Schimidt, onde, simbolicamente, seria a aberta a colheita do trigo no Rio Grande do Sul e lançado um plano para a expansão da produção e da produtividade desse cereal no Estado. Presidentes de cooperativas gaúchas e triticultores da região prestigiaram o ato. Seguiu-se uma visita rápida à prefeitura e coquetel e churrasco nas dependências da Cooperativa Tritícola de Carazinho. Após o almoço, o deslocamento para Passo Fundo. Um forte aparato militar, com soldados armados, posicionados em pontos estratégicos da Rodovia BR 285, e helicópteros dando cobertura pelo ar.

Eram 14h30, quando a comitiva presidencial chegou à Estação Experimental de Passo Fundo, atual sede da Embrapa Trigo. Uma rápida percorrida, de automóvel, pelos campos experimentais, e sobreveio o ato formal de inauguração do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo: a primeira unidade descentralizada (fora de Brasília) da então novel Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que havia sido fundada a 26 de abril de 1973. Os empregados haviam sido dispensados do trabalho. Apenas a direção da Estação Experimental, autoridades, convidados e alguns pesquisadores presentes, além de um grupo de cientistas estrangeiro que haviam participado da Reunião Latino-Americana de Trigo. O excesso de gente nas dependências da Estação preocupou o chefe da segurança. O administrador da Estação, Dr. Rui Colvara Rosinha, foi incitado a esvaziar o prédio. Acabaram definindo por delimitar, com uma corda, o espaço que separaria o público das autoridades.

E assim se deu a inauguração de laboratórios e foi descerrada a placa oficial, que, por determinação do general Ernesto Geisel, não incluiu nomes de autoridades. Apenas: “EMBRAPA – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, e a frase emblemática “Este centro dedicará todo o esforço à produção de trigo de que o Brasil necessite”, Ministério da Agricultura, Passo Fundo, RS, 28.X.1974”. E seguiu-se a fala do presidente da Embrapa, Irineu Cabral, destacando o papel da Empresa e o plano de ação que nortearia as atividades do centro de pesquisa que estava sendo inaugurado. Um breve pronunciamento do General Ernesto Geisel e cerimônia encerrada. A comitiva presidencial seguiu para a visita à Prefeitura de Passo Fundo, na Avenida Brasil Oeste, no centro da cidade, onde seria recepcionada pelo prefeito, coronel Edu Villa de Azambuja, pelo presidente da Câmara de Vereadores, Lourenço Pires, e demais autoridades municipais. Às 16 h, o Avro da FAB deixava o aeroporto Lauro Kortz.

São passados 47 anos desde esse acontecimento. Há a consciência que a Embrapa Trigo cumpriu um papel importante na superação de muitos entraves da triticultura brasileira. Alguns, todavia, ainda estão presentes e outros surgiram. Novos enfoques em pesquisa, desenvolvimento e inovação são necessários. Oxalá que venham outros 47 anos!

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