OPINIÃO

O acadêmico honoris causa Dorival Guedes

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Dorival de Almeida Guedes (1899-1986) foi, na essência da expressão latina honoris causa (para...efeito de...honra), ainda que a Academia Passo-Fundense de Letras não contemple no seu estatuto essa distinção honorífica, um autêntico acadêmico honoris causa. Intelectual autodidata que prestou relevantes serviços à cultura local.

Natural de Resvalador, interior de Soledade, Dorival Guedes nasceu em 17 de novembro de 1899. Criado nas lides do campo e no transporte de mercadorias por carreta puxada a bois e carroças de terno misto de muares e cavalares. Não teve acesso à educação formal. Aos 19 anos saiu do campo para ingressar no Exército. Ao deixar a farda (Exército e Brigada Militar), em 1927, fixou residência em Passo Fundo. E, nessa cidade, dono de inteligência privilegiada, leitor voraz e autodidata que lapidou conhecimentos com o professor Manoel de Araújo Schell e com o Dr. Herculano Annes, galgou postos públicos diversos. Entre tantos, ocupou cargos de fiscal-geral, subprefeito e subdelegado de polícia de localidades da região, coletor de impostos, inspetor de ensino, etc., destacando-se, na área cultural, a nomeação como auxiliar do diretor da Biblioteca Pública Municipal, a partir de 14/10/1940.

Dorival Guedes foi casado com a Sra. Olívia Corrêa Guedes e tiveram os filhos Soely (funcionária municipal), Altayr (tenente-coronel do Exército), Flory (médico) e Miguel Eramy (promotor de justiça) e uma longa descendência a partir desse núcleo familiar. Na esfera política, foi filiado ao Partido Republicano Rio-Grandense, com passagens pelo Partido Republicano Liberal e pelo Partido Social Democrata (PSD).

Mas, foi na Biblioteca Pública Municipal e na Academia Passo-Fundense de Letras que Dorival Guedes deixou a sua marca indelével em prol da cultura local. Fixou residência no prédio sede da Academia Passo-Fundense de Letras, na Av. Brasil Oeste nº 792, e cuidou com zelo tanto do acervo da Biblioteca Pública quanto da Biblioteca da Academia de Letras. Mesmo aposentado, a partir de 31 de março de 1952, continuo como colaborador na biblioteca, ao lado da filha Soely, e como auxiliar na Academia Passo-Fundense de Letras, enquanto a saúde permitiu, até os anos 1970. Assinou textos diversos nos jornais locais sobre temas contemporâneos (greve dos ferroviários), análises literárias de livros de autores da cidade e sobre as funcionalidades do então Grêmio Passo-Fundense de Letras e da Biblioteca Pública Municipal e seus acervos.

Referências elogiosas ao “Sr. Dorival”, nas Atas do Sodalício das Letras Locais, são facilmente encontráveis. Em 3 de abril de 1970 foi proposta, e acatada, a eleição de Dorival Guedes para o posto e assistente da diretoria da entidade. Era o mínimo de reconhecimento a um homem que, intelectualmente, estava acima de muitos membros da instituição. Ele, na sua humildade, nunca se preocupou com isso e, talvez, se visse representado no filho Miguel Eramy, poeta que pertenceu à Academia de Letras. De certa forma, Sabino Santos, no livro sobre a Academia Passo-Fundense de Letras, publicado em 1965, prestou esse tributo a Dorival Guedes, ao incluir a biografia dele e reproduzir a descrição do próprio Guedes sobre o ambiente e o acervo da Biblioteca Pública Municipal, que funcionava no prédio da Academia.

A Academia Passo-Fundense de Letras, pelos relevantes serviços prestados por Dorival Guedes à instituição e à cultura local (preservou documentos públicos que fora instado a destruir, por exemplo), em reunião realizada no dia 2 de outubro de 2021, decidiu dar o nome de Dorival de Almeida Guedes à biblioteca do sodalício que ora esta sendo remodelada e voltada à preservação da memória das letras locais. Muito do acervo dessa biblioteca, quis o destino, foi, um dia, manuseado e cuidado com esmero por esse homem que primou pela humildade em vida.

Depois de longa convalescência, Dorival Guedes morreria no dia 15 de março de 1986. Foi muito mais do que “o homem do cafezinho da Academia de Letras”. Foi um acadêmico honoris causa.

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