Cerca de cem países estarão presentes na Cúpula da Democracia, a primeira de duas cúpulas, iniciativa do presidente americano, Joe Biden, entre os dias 9 e 10 de dezembro, de forma virtual. Como abordamos nesta coluna, Biden tenta criar uma espécie de doutrina para a sua política externa que, como já afirmou, o século 21 será marcado pelo enfrentamento entre democracias e autocracias. China e Rússia não foram convidadas (com razão) em meio às últimas tensões que se estabeleceram entre os países e os EUA. O mais curioso foi a iniciativa chinesa de também tentar organizar uma espécie de “cúpula sobre a democracia”, que resultou em documento oficial, os conhecidos “White Papers”, intitulado: “China: democracia que funciona”. Na visão chinesa, a democracia do Partido Comunista Chinês seria muito superior à americana! Se esta coluna não fosse sobre geopolítica, muitos acreditariam que o aludido estaria mais para um bom roteiro ficcional, mas é verdade. A questão é que a China tenta criar uma narrativa (manobra de desinformação), para vender ao mundo, de que propugna um “modelo democrático” de partido único, com suas “próprias variantes”, todas duvidáveis, certamente. Isso resulta também na tentativa de se apresentar como uma “potência multilateral”, mesmo negando frontalmente os princípios da multilateralidade, quando postergou as informações sanitárias sobre o Covid-19, em clara afronta ao direito internacional.
Sinais geopolíticos
A cúpula de Biden é um forte sinal ao tabuleiro geopolítico, mais do que qualquer evento teórico sobre os regimes democráticos, ao deixar países de fora, fica claro o constrangimento gerado – que levou a China a conduzir a sua própria “cúpula democrática”. Taiwan foi convidado a participar no evento de Biden, o que demonstra o apoio americano à situação delicada e complexa que há entre a China e Taiwan, incluindo exercícios militares chineses no espaço aéreo da ilha, que possui a sua autonomia, em que pese a China reivindicar o território, em movimento similar ao que a Rússia faz com a Ucrânia, guardando-se as devidas proporções. A Rússia também ficou de fora da cúpula americana da democracia. Em meio às tensões que se estabelecem entre Washington e Moscou, mesmo eles tendo realizado reunião virtual para buscar um diálogo, esse se torna cada vez mais ineficaz. O evento também servirá para testar a doutrina de Biden, do confronto entre as democracias e autocracias, em meio às tensões entre os EUA, a China e a Rússia, principalmente. Dessa forma, Biden aproxima-se de aliados (cerca de cem países) para robustecer a sua proposição, buscando se isolar dos países autocráticos e favorecendo uma aliança global comprometida com a democracia. Nesse esforço, valeu até convidar países com baixas pontuações nos principais índices internacionais de democracia, como a Angola, a República Democrática do Congo e o Iraque – mas que podem ser aliados importantes, no sentido de se confrontar o avanço chinês.