Desde sua fundação, há mais de 30 anos, o Coral Ricordi D’Italia de Passo Fundo segue trajetória e as transformações normais com ausências de integrantes ou o ingresso de novos componentes. A constância das atividades, especialmente os ensaios musicais exigem inexoravelmente espírito voluntarioso, tempo e vontade persistente. A missão é árdua e dispende colaboração permanente, quer pela manutenção do coral, com vozes femininas e masculinas, quer pelo permanente desassossego. A música justifica toda uma dedicação à entidade que é importante para a cultura e arte de nossa terra.
A pandemia trouxe a tragédia ao mundo, atingindo a vida cotidiana. A doença, a morte de multidões incluindo pessoas próximas determinou a alteração no roteiro de ensaios e apresentações ao público. E, durante dois anos, a separação do treino vocal mostrou que o grupo de cantores, maestro e colaboradores, era muito mais que mera reunião de pessoas afins. E, nos primeiros meses, cada ensaio adiado pelo isolamento sanitário feria como novo golpe, de saudade e desejo de se encontrar pela causa artística e musical. Pelos meios de comunicação da internet evidenciou-se uma angústia que parecia imperceptível como valor no relacionamento coletivo do grupo. A apreensão pela ausência dos encontros embargou vozes que se alimentavam muito de canções, hinos de vida. Formou-se a rede de WatsApp que aumentou a inconformidade com a saudade. Aos poucos se formaram modalidades de contatos a partir de reforço e novas músicas, com a iniciativa espetacular do mestre Davi Reginato. Sua entrega foi entendida como revide à paralisia que acometeu a expressão artística. Nesse contexto, com a incomparável força de doação e liderança da presidente do Coral Glaci Terezinha Bortolini, talento e capacidade de compreensão sem limites. Um novo movimento foi brotando, mesmo sob a pressão do isolamento físico orientado pela ciência médica. Pela ligação cultural e afetiva o golpe que feria a Itália espalhava o medo da praga, que logo veio violentamente acometer nosso país. A aflição e dor pela perda e repressão de costumes, como a vida musical da comunidade coralista ficou profundamente abalada. Mas, com muito ardor e coragem as mensagens de esperança apontavam para melhores dias. E demorou mais. E foi um período pungente para todos, todas as famílias na defesa da saúde e da vida. Incrivelmente, no, entanto, ninguém se desligava, suportando dores e angústias e pensando voltar à música.
Os momentos de comunicação virtual vinham repletos de promessas para retomar as atividades. Todos vacinados. Esperou-se mais um tempo e o desejo de se reunir em torno dos hinos e canções fez-se orvalho matutino regando flores sequiosas em auroras promissoras. Logo se deram os primeiros passos, ousados até, frente às incertezas da pandemia. Com todas as cautelas pequenos grupos ensaiavam. Finalmente, ainda com muitas reservas, cresceu a possibilidade de apresentação ao vivo, na Catedral. Tudo é uma longa história de luta contra a terrível ameaça do coronavírus e a história do Coral, que não esmoreceu. Máscara, distanciamento, reza intensa, enfim todas as cautelas para o momento de reencontro. Os ensaios foram repletos de emoção suprida com a vontade do reencontro. E assim foi. No último dia 12, domingo às 18h, o Coral Ricordi D’Italia apresentou-se forte e decidido na Catedral. A participação de todos, especialmente da pianista Marcia Oltramari e da maestra Maria Teresinha Fortes Braz, pilastras do incentivo à arte musical, emprestaram ardor e brilho ao ressurgir do coral. E foram todos a participar do embalo para alastrar a chama do Ricordi.
Após as apresentações de músicas religiosas, o público pode assistir também as melodias italianas nas vozes do coro.
O bispo metropolitano Dom Rodolfo Luís Weber na homilia discorreu sobre a partilha, esta força que pode trazer a paz verdadeira ao mundo.
Foi dia de muito brilho musical que se encerrou com a participação belíssima a escola de música. Violinos cobriram de maravilhosos sons a ampla catedral de Nossa Senhora Aparecida. Sim a música que faz alma se elevar e os corpos reviver, na voz e nos instrumentos de som.