Não sei se você acompanhou, mas há pouco tempo houve um embate na internet entre duas gerações: millennials (nascidos entre 1980 - 1994) versus geração Z (1995 - 2010). As piadas giravam em torno do que a geração mais nova considerava “cringe”, gíria que descobri ser utilizada para expressar o sentimento de “vergonha alheia”. Um conflito natural entre diferentes gerações, que carregam em suas identidades as preferências e comportamentos característicos da época em que nasceram. O tempo passa e muita coisa muda. O que era importante para alguns, torna-se irrelevante para outros e assim por diante.
Trabalhar para construir patrimônio e constituir família, por exemplo, pode até ser considerado “cringe” pelos mais jovens. Afinal, eles dão muito mais valor à experiência e ao agora, querem ter acesso a tudo e a todos, em qualquer lugar. Se por um lado a globalização aproximou continentes, por outro a internet quebrou as barreiras do mundo físico, tornando tudo ainda mais acessível e instantâneo. Então por que continuar “preso” a um só lugar, vivendo em um contexto tão dinâmico como esse, não é mesmo?
Apesar desse espírito de desapego às coisas materiais, algumas ainda se mostram indispensáveis, independente da época ou da geração. Ter uma casa para voltar não é uma simples preferência, mas sim uma necessidade básica que acompanha o ser humano desde os primórdios de sua existência. Mais que o abrigo para nos proteger de qualquer intempérie, um imóvel é sinônimo de segurança, tanto em relação ao dinheiro quanto à qualidade de vida das pessoas. Até certa idade pode não ser uma preocupação, mas é uma busca inevitável conforme os anos vão passando e, com eles, vamos amadurecendo.
Os últimos dois anos provaram a importância de ter uma casa. Ninguém imaginava que fronteiras seriam fechadas devido a uma pandemia ou então que fôssemos impedidos de curtir férias, de fazer um happy hour com os amigos, de participar de eventos corporativos ou ainda de ir ao parque com as crianças. Mesmo agora, com toda a flexibilidade das medidas restritivas, muitos de nós ainda não se sentem completamente seguros para manter hábitos que até então eram bastante corriqueiros. Desde que a pandemia começou, só existe um lugar onde qualquer um se sente 100% seguro: a própria casa.
Em decorrência disso, vimos o surgimento de um novo olhar para o imóvel, especialmente do público mais jovem. Para essa geração, a posse de um imóvel se distanciou do que parecia ser um compromisso para a vida toda, privando a liberdade de mudar para qualquer lugar, a qualquer momento. Esse conceito já datado não condiz com a nossa realidade atual. Ter um imóvel nem de longe anula a liberdade de conhecer novos lugares, interagir com novas culturas e viver novas experiências. Primeiro porque hoje em dia um imóvel pode ser comercializado a qualquer momento, sem muita dificuldade, e segundo porque a partir dele você continua tendo infinitas possibilidades.
Impedidos de ir e vir, aprendemos a expandir o conceito de casa durante a pandemia. A partir dela eu posso me reunir com pessoas de qualquer parte do mundo, posso estudar nas maiores universidades e inclusive ganhar em dólar, trabalhando para empresas de outros países. Tudo de forma online, independente do lugar em que eu esteja.
Ter uma casa para chamar de sua não está no lado oposto do que pode significar liberdade. Porque no final das contas, liberdade não está no que você tem ou deixa de ter, mas nas decisões que você toma. Sendo assim, a liberdade pode estar sempre com você, inclusive morando dentro de sua própria casa.