Temperados ao forno
Desde o primário, nas fascinantes páginas coloridas dos livros de Geografia, aprendi que o nosso clima é temperado. Segundo as normais climatológicas, algo semelhante a uma média estatística, estamos numa zona climática fundamental temperada onde o clima é subtropical. Assim, entendo que por aqui o clima é temperado. Temperado? Então, deixaram cair um vidro de pimenta malagueta no caldeirão da bruxa. Pelo calor que enfrentamos nos últimos dias, nosso clima poderia ser classificado como tórrido inabitável. Na noite de segunda-feira, em tímidas aparições, a chuva lambuzou as ruas e molhou bobos felizes. Cada gota que caiu foi saudada com entusiasmo. Ninguém apressou o passo para escapar da chuvinha. Bem ao contrário, pois muitos foram ao seu encontro.
Vivemos com calor e seca, uma perigosa combinação para os seres vivos. Um calorão que derrete pensamentos e fortalece o desânimo. Obviamente, enquanto estamos reclamando desse exagero, sonhamos com a chuva e um aconchegante friozinho. E quando o gélido e chuvoso inverno voltar, vamos sonhar com dias quentes e secos. Vivemos entre os extremos do nosso clima, mas os exageros são insuportáveis. Também somos eternos insatisfeitos que, volúveis às bem definidas estações, seguimos reclamando do frio ou do calor habituais. É claro que quando exageram na dose, sofremos e reclamamos ainda mais. Mas desta vez a reclamação não é apenas pelo simples hábito de reclamar. Pelo calorão e ar seco, até desconfio que ao fechar a portinha do forno fiquei no lado errado. Mas bem temperado!
Comandante Fumaça
Mais do que um grande amigo, Paulo Renato Berto inspirou e conduziu muitas gerações ao Aeroclube de Erechim. Estou entre eles. Aplaudido pelas suas inacreditáveis acrobacias com o clássico PT-19, logo ficou conhecido como Fumaça. Icônico, virou lenda na aviação. Um sujeito que vendia tranquilidade e comprava paz sem perder o jeito moleque. Levou a sensibilidade do manche aos pincéis e retratou o voo das gaivotas em suas lindas telas, que assinava como Pablo Fumaça. No sábado, após sofrer uma pane cardíaca, ganhou asas próprias e decolou rumo ao infinito azul. Bom voo, Comandante Fumaça!
O vento
O vento pode refrescar ou até mesmo atiçar os pensamentos. Um ventinho de través entrou no meu ouvido e acionou a minha imaginação. Em quase palpável prenúncio, vislumbro uma fita colorida esticada a meia altura e, em frenético empurra-empurra, um desfile de sorrisos oportunistas. Ao fundo, uma biruta indica vento de 350º. Mas ninguém observa a sinalização do vento e as suas consequências, pois estão todos com os olhares direcionados para os fotógrafos. E o vento sequer aparecerá nas fotos.
Tranca Ruas
Assessoria é uma forma de apoio. Serve para intermediar e facilitar o acesso entre as pessoas. Entendo que é um facilitador, agilizador e encurtador de trâmites. Portanto, o assessor jamais pode ser um complicador. Até porque, para obstruir os caminhos não necessitamos de assessores. Invocamos o Exu Tranca Ruas.
Máscaras
Desde o início da pandemia, não consigo entender o porquê das máscaras no pescoço. No inverno até poderia ser pelo frio. Mas e agora com a caldeira tinindo? Outros sequer utilizam a máscara. Porém, esses já estão mascarados pela própria falta de vergonha.
Barulho móvel
Automóveis com som trepidante e motos com descarga aberta continuam em festa. Além dos insuportáveis carros de som de um circo! E ninguém faz nada.
Barulho fixo
Estabelecimentos ainda despejam som nas ruas e calçadas. E ninguém toma a iniciativa para proibir essa barulheira.
E agora?
A Terra permanecerá plana?
Trilha sonora
Eagles – Hotel California