OPINIÃO

Admirando as Palavras

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O ser humano quando se comunica com outro, preferencialmente, usa palavras, através das quais, se dá a conhecer e expressa o que deseja. Esta também foi a forma que Jesus usou para se dar a conhecer e expressar o que desejava dos ouvintes. Segundo os evangelistas, Jesus passava a maior parte do seu tempo pregando, anunciando, falando. Ensinava sempre e em todas as oportunidades. 

O evangelista Lucas registra que Jesus, no começo da sua vida pública, foi à Sinagoga de Nazaré onde leu as Escrituras. Registra também a primeira reação dos ouvintes: “Todos os que estavam na sinagoga, tinham os olhos fixos nele”. “Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam de sua boca” (Lc 4,20.22) São Mateus faz o mesmo registro: “Depois que Jesus concluiu essas palavras, as multidões ficaram maravilhadas com seu ensinamento. Com efeito, ele ensinava como quem tem autoridade” (Mt 7,28-29). Também São Marcos escreve: “Jesus entrou na Sinagoga e ensinava. Ficaram maravilhados com seu ensinamento, pois ele ensina como que tem autoridade” (Mc 1,21-22).

Silvano Fausti sabiamente explica o significado da admiração diante dos ensinamentos de Jesus. “A atitude justa diante da Palavra é a admiração. A admiração é a mãe da sabedoria: por ela, o coração se abre para acolher aquilo que é novo e belo, verdadeiro e amável. É diferente da curiosidade, mãe da ciência: por ela, a mente se pergunta o porquê, de modo a conhecer o objeto para desmontá-lo, remontá-lo, apoderar-se dele e usá-lo para o próprio benefício. Se, na admiração, se é invadido pelo outro; na curiosidade, invade-se o outro. A primeira atitude expressa o amor, a acolhida, e se volta ao mundo dos objetivos, do bom e do bem; a segunda expressa o egoísmo e a apropriação, voltando-se ao mundo dos meios, do útil e do cômodo. A reação contrária à admiração é chamada por Marcos e Mateus de “dureza de coração”. Essa assinala as etapas do antievangelho. Em Lucas, essa dureza de coração é traduzida com a reação de “raiva” (4,28; 6,11; 11,53; 15,28). Quando se aborda o outro para usá-lo, o coração se torna duro, calcificado e morto, e não sabe mais pulsar pelo próximo; fechado na sua própria utilidade, é tomado pela ira e estende a mão somente para se apoderar de quem o serve, para esmagar aquilo do qual se serve, Cristo será morto por essa atitude hostil (11,53). No Evangelho, há uma admiração toda particular e nova, porque nos coloca diante da novidade absoluta. Não é a admiração que se experimenta diante dos escribas, que até dizem a verdade sobre Deus. É a admiração de se encontrar diante do próprio Deus” (FAUTI, S. Uma comunidade lê o Evangelho de Lucas, Ed. CNBB, 2021, p. 125).

Ouvir repetidas vezes a mesma e conhecida passagem bíblica, talvez não desperte mais a atenção e o encantamento. Porém é bom lembrar que nenhum dia da vida se repete e cada vez que se escuta a mesma Palavra de Deus algo de novo já aconteceu na nossa vida. Por isso, cada escuta é única e irrepetível. “Toda manhã ele me desperta e abre meus ouvidos para que eu ouça como um discípulo” (Isaías 50,4). Admirar-se sempre, é uma postura de quem se reconhece necessitado de ser ensinado permanentemente. 

A liturgia dominical nos oferece a 1 Carta aos Coríntios (12,31-13,13) um ensinamento admirável, o ensinamento central de Jesus Cristo. “Aspirai aos dons mais elevados. Eu vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior. (...) Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse fé a ponto de transportar montanhas, mas se não tivesse caridade, eu não seria nada”.

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