OPINIÃO

Ottoni Rosa, segundo A. G. Linhares

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Ottoni Rosa, segundo A. G. Linhares

Aroldo Gallon Linhares repassa, na memória, a fala que faria em seguida, e não consegue tirar da mente essa cena: Ottoni de Sousa Rosa hospitalizado e sob a ação de sedativos. Ao ser avisado, pela esposa Amarilis, que Aroldo estava no quarto para visitá-lo, Ottoni, com dificuldade, procura algo no criado mudo ao lado da cama e balbucia: - então dá o folheto das novas variedades para ele! Eis a essência do homem, que, independente das circunstâncias, pensava, acima de tudo, no trabalho com trigo, cultivo aos qual se dedicara nos últimos 60 anos. No domingo passado (30/01/2022), foi a cerimônia de despedida do Dr. Ottoni Rosa, que, aos 84 aos, falecera em Passo Fundo. Coube a ex-estagiário, ex-colega de trabalho e amigo de muitos anos, Aroldo Linhares, a difícil e honrosa missão de proferir algumas palavras sobre o falecido.

Ottoni Rosa era egresso da turma de engenheiros-agrônomos de 1958, pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/UFPel. Logo depois de formado, começou a trabalhar no setor de multiplicação de sementes do Instituto Agronômico do Sul (IAS), em Pelotas. Foi um dos líderes da iniciativa que resultou na organização da produção de sementes no Brasil. Ao assumir o cargo de diretor substituto do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Sul (IPEAS), que, na esfera federal, sucedeu o IAS, teve atuação destacada para a transferência do programa de pesquisa de trigo de Pelotas para Passo Fundo. Além de ter influído na transferência da antiga Estação Experimental de Passo Fundo, do distrito de Engenheiro Englert/Sertão, para a Rodovia BR 285, altura do km 294, local onde está localizada a atual sede da Embrapa Trigo.

Pela Universidade Autônoma de Chapingo, México, cumpriu programa de mestrado em melhoramento de plantas, em 1970. Na oportunidade, estreitou o relacionamento com o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), especialmente com Norman Borlaug, cujos desdobramentos trariam esse cientista, galardoado com o Prêmio Nobel da Paz, inúmeras vezes a Passo Fundo, para orientar os rumos da pesquisa de trigo no Brasil.

Entre 1973 e 1974, assumiu a coordenação técnica do Centro de Pesquisa da Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do RS (Fecotrigo), em Cruz Alta, RS, organizando um programa de pesquisa em trigo. E, quando da criação da Embrapa, fez parte do grupo de trabalho encarregado da elaboração do anteprojeto de implantação do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), formalmente inaugurado, em Passo Fundo, no dia 28 de outubro de 1974, sendo nomeado como o 1º Chefe-Geral dessa unidade de pesquisa.

No comando do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, Ottoni Rosa destacou-se como gestor e liderança científica. Foi ator relevante, como facilitador ou protagonista de elite, para levar a bom termo propostas de pesquisa inovadoras em trigo, cujos desdobramentos estendem-se até os nossos dias. Inclui-se nesse rol, a iniciativa para o controle biológico de pulgões, a implantação da rotação de culturas como base para o controle de doenças radiculares (podridões), o controle químico de doenças, os primeiros trabalhos com o sistema plantio direto, a resistência genética às doenças e a correção de defeitos na criação de cultivares, a busca de novos tipos de planta e novas práticas de experimentação em melhoramento genético vegetal. Além de ter incentivado a expansão do trigo na zona tropical, com destaque para o norte do Paraná e nos estados de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Em reconhecimento ao trabalho com trigo, seria agraciado com o Prêmio Frederico Menezes Veiga, em 1977.

Em 1989, Ottoni Rosa encerrou sua carreira no Embrapa e, como empreendedor competente e homem de visão, criou uma das mais bem-sucedidas empresas privadas de melhoramento genético de trigo no Brasil: OR Melhoramento de Sementes Ltda., que tem sede em Paso Fundo.

Nossos respeitos à memória do Dr. Ottoni Rosa e condolências aos familiares, em especial à esposa, Dra. Amarilis Labes Barcellos, e aos filhos, Jaqueline, Leonardo, Ottoni Filho, André, Maria e Silvia. Requiescat in pace, Dr. Ottoni!


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