Uma vida bem-aventura, feliz, bendita, abençoada é o desejo de todos seres humano. O desejo é comum, porém os caminhos escolhidos para alcançar a meta são muito variados. A liturgia dominical (Jeremias 17,5-8, Salmo 1, 1Coríntios 15,12.16-20 e Lucas 6,17.20-26) trata do tema. Lucas fala que muitos discípulos e grande multidão foram ao encontro de Jesus. Se estavam indo em busca dele é porque desejavam ouvir algo para orientar a sua vida.
Numa atitude de mestre, Jesus “levantou os olhos para seus discípulos” e começou a ensinar as Bem-aventuranças, conhecidas também como “sermão da montanha”. Para compreendê-las, aceitá-las e vivê-las se faz necessária uma atitude de discípulo. O Papa Francisco na exortação apostólica “Sobre a chamada à santidade no mundo atual” alertava: “Estas (as bem-aventuranças) são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre “como fazer para ser um bom cristão”, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a ser modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida. (...) Estas palavras de Jesus, não obstante possam até parecer poéticas, estão decididamente contracorrente ao que é habitual, àquilo que se faz na sociedade; e, embora esta mensagem de Jesus nos fascine, na realidade o mundo conduz-nos para outro estilo de vida. As bem-aventuranças não são, absolutamente, um compromisso leve ou superficial; pelo contrário, só as podemos viver se o Espírito Santo nos permear com toda a sua força e nos libertar da fraqueza do egoísmo, da preguiça, do orgulho” (n. 63 e 65).
Lucas diz que Jesus falou para os discípulos. Um ensinamento direcionado a quem já tinha uma proximidade, um conhecimento e uma intimidade com mestre. Nas bem-aventuranças está delineado o rosto do Mestre, como ensina o Papa Francisco. Elas revelam quem é Cristo. O discípulo constantemente configura-se ao mestre no modo de pensar e no agir. Por isso, as bem-aventuranças também descrevem os discípulos de Jesus: são pobres, famintos, pacíficos, que choram, odiados e perseguidos.
Não é possível refletir sobre todas, atenho-me a uma: “Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir!” Segundo Bento XVI há duas tristezas que fazem chorar: “ uma que perdeu a esperança, que já não confia no amor nem na verdade e que por isso desagrega e arruína o homem por dentro; mas também há a tristeza do abalo, da comoção provocada pela verdade e que leva o homem à conversão, à resistência contra o mal. Esta tristeza cura, porque ensina o homem a acreditar e a amar de novo” (Jesus de Nazaré, p. 88).
Chorar depois de cometer um pecado, chorar pela contrição e confissão do pecado se torna uma fonte de alegria e paz ou, como diz Jesus, faz “rir”. É um choro salutar e de cura.
Na mesma exortação o Papa Francisco diz: “A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa transpassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Esta pessoa é consolada, mas com a consolação de Jesus e não com a do mundo. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das situações dolorosas. Desta forma, descobre que a vida tem sentido socorrendo o outro na sua aflição, compreendendo a angústia alheia, aliviando os outros. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas Assim, é possível acolher aquela exortação de São Paulo: “Chorai com os que choram”(Romanos 12,15) (n 76).