OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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A situação doméstica e geopolítica do Irã é delicada. Protestos em nível nacional eclodiram a partir do dia 17 de setembro, desde que Mahsa Amini, uma jovem iraniana de 22 anos, foi espancada até a morte pela “polícia da moralidade” iraniana. O motivo: não ter coberto o cabelo da forma mais adequada. As manifestações de massa são comuns no Irã, ao menos, desde a revolução de 1979. Todavia, muitos dos protestos nos últimos anos têm sido repreendidos pela força do regime. A grande questão é até que ponto os protestos de agora terão o mesmo destino? Aparentemente, existem evidências de que os movimentos atuais sejam diferentes dos demais. Os massivos protestos de 2009, conhecidos como o “movimento verde” não foram repreendidos logo à sua eclosão, se não, somente após um pleito eleitoral, preenchido com uma série de irregularidades. Já os protestos de 2019, que reclamavam os preços dos combustíveis se espalharam por mais de 200 cidades, antes de serem brutalmente anulados, no que ficou conhecido como o “novembro sangrento”. Desta vez, parece que a conjuntura é outra, na medida em que as mulheres iranianas desafiam o regime, retirando os véus de suas cabeças e queimando-os, em atitude que desafia os supostos costumes iranianos. Os homens também aderiram aos massivos protestos, motivados pelo cenário de uma economia frágil e sem perspectiva. Ao todo, cerca de 40% das famílias iranianas vivem abaixo do limiar da pobreza. Ou seja, o protesto iniciado pelas mulheres se tornou mais amplo e com forte aderência social, sendo, portanto, difuso e com uma pauta chave, deixar as mulheres escolherem, o que não é compreendido pelo regime iraniano. Há uma diferença significativa dos protestos de 2009, que buscou reprimir os pobres iranianos que reclamavam dos preços. Atualmente, a pauta é distinta, com um número massivo de mulheres protestando por uma pauta geracional, com forte impacto ao regime, pois, recusam-se a vestir os seus véus, conhecidos como hijabs.

 

Números

Há uma estimativa que demonstra a brutalidade do regime, com cerca de 215 pessoas, incluindo 27 crianças, mortas nos protestos. Cerca de 1,5 mil pessoas já foram presas. Outros exemplos de mulheres que desafiaram o regime surgiram, como o caso da alpinista irianiana, Elnaz Rekabi, que em um torneio, na Coreia do Sul, recusou a usar o seu hijab. Há uma vulnerabilidade significativa no equilíbrio de forças, de um lado o brutal regime e do outro, mulheres com a sua coragem de enfrentar o sistema.

 

Parcerias internacionais

Por outro lado, o Irã busca os seus parceiros internacionais, entre eles, a China e a Rússia. Já houve encontro entre os seus líderes, na tentativa de construção de uma nova configuração geopolítica. O regime iraniano tem fornecido os drones armados à Rússia, que são utilizados no campo de batalha na Ucrânia, com efeitos devastadores. Também, serão fornecidos mísseis. Toda essa conjuntura coloca um verdadeiro retrocesso a qualquer avanço em um acordo nuclear com as potências ocidentais. Ao mesmo passo que o Irã desafia a geopolítica com as suas parcerias duvidosas, é ameaçado pelas corajosas mulheres, que podem iniciar uma verdadeira revolução, sem precedentes na história. 

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