Cada ser humano que nasce se insere na história do mundo que conta com milhares de anos. Em todos os períodos da história, os humanos procuraram respostas para as suas necessidades básicas, para as relações com os outros, com Deus, com a natureza. Perguntam sobre o sentido e o destino da vida. Ao mesmo tempo que cada um procura encontrar as suas respostas, sempre teve e terá pessoas que se apresentam como guias. É o tema que Jesus trata com os discípulos na liturgia do dominical (Eclesiástico 27,5-8; Salmo 91(92), 1 Coríntios 15,54-58 e Lucas 6, 39-45).
Jesus era reconhecido como mestre que ensinava com autoridade. Era comparado com outros mestres e era considerado superior. Também seu ensinamento encantava e maravilhava. Não repetia o óbvio, mas trazia novidades. Jesus tinha os seus discípulos aos quais estava preparando para serem enviados para ensinarem e serem guias. Se existe a busca pessoal de respostas, na verdade a busca se faz ouvindo, dialogando com outros. Neste contexto, quem se apresenta como guia tem um poder de influência muito grande. O guia pode orientar numa direção segura ou levar o guiado ao tropeço. Jesus orienta os discípulos na sua missão de guias apresentando dois princípios: “Pode um cego guiar outro cego?” e “Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre”.
Em forma de mini parábola ou provérbio, Jesus faz um alerta: “Pode um cego guiar outro cego?” Colocar-se a guiar outros, em primeiro lugar, requer empenhar-se em adquirir sabedoria. O homem para ser guia de outro deve ter em si uma luz e uma riqueza, senão é destinado a ser causa de ruína não só para os outros, mas também para si. O livro do Eclesiástico faz compreender como se revela a cegueira do guia. “Quando a gente sacode a peneira, ficam nela só os refugos; assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar. Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa. O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela”.
O alerta em forma de provérbio de Jesus é um convite para descobrir as cegueiras pessoais e as externas, também as da sociedade. Por motivos de acomodação ou por razões defensivas não se pode esconder as cegueiras existentes. É uma atitude que tem muitas consequências por levar as pessoas, em geral as mais frágeis, por rumos que trazem prejuízos para vida pessoal e para a sociedade.
Em segundo lugar, Jesus diz que o guia deve ter um referencial, um mestre. Obviamente, neste caso, o Mestre ao qual Jesus faz referência é Ele mesmo. É um modelo altíssimo, perfeito ao qual nenhum guia humano poderá chegar. Diante disso, os guias humanos sempre serão discípulos com as marcas da humildade, sinceridade. A tarefa do guia não é a de juiz e nem a de procurar defeitos nos outros. “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão?” A tarefa é ajudar as pessoas a serem boas. “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração”.
No cotidiano da vida somos guiados e guiamos, somos discípulos e mestres. As sábias palavras de São Paulo aos Filipenses (cf. 2,15-16) são iluminadoras: “Como astros no mundo vós resplandeceis, mensagem de vida ao mundo anunciando; da vida a Palavra, com fé, proclamais, quais astros luzentes no mundo brilhais”.