Paz na terra aos homens de boa vontade
Lá por 1976, as emissoras de rádio fechavam bem mais cedo. Trabalhava na Rádio Erechim, que encerrava a programação às 23 horas. Tempos da caixinha onde ficavam os textos comerciais. E no fundo desta caixinha estava a última folha, uma cartolina plastificada com um texto datilografado. Era a nota de encerramento das transmissões diárias, onde agradecíamos pela audiência, convidávamos para um reencontro no próximo dia e desejávamos um bom repouso. A última frase do texto de encerramento era marcante e exigia uma entonação especial. “Paz na Terra aos homens de boa vontade”. É bíblica (Lucas 2:14). Confesso que eu não ligava muito para o significado das palavras da emblemática frase, mas jogava emoção nas cordas vocais. Há pouco terminara o conflito no Vietnã, mas o sangue ainda escorria nas telas do cinema.
A expressão “paz” era bonita e lembrava a pomba branca de Oxalá. E quem seriam, de fato, os homens de boa vontade? Não dava tempo para pensar muito, pois já estávamos descendo a escadaria de madeira do prédio da Rádio e pensando numa cervejinha depois de um dia de trabalho. Mas o desejo de paz parece que nos acompanhava naqueles instantes. Numa visão espiritual ampla, conduzia a mesma paz que a minha voz espalhou pelo ar. Me sentia muito bem ao ler aquela frase no encerramento das transmissões. Tanto que a mensagem ainda ecoa na minha cabeça. Mensagem de paz. Pedido pela paz, grito de paz. Por isso sinto-me muito mal quando vejo a Terra em guerra. Tenho vontade de conectar todas as frequências disponíveis no planeta para, numa imensa cadeia universal, em alto e bom tom repetir aquela frase que marcou os meus primeiros momentos ao microfone: “Paz na Terra aos homens de boa vontade”!
Agressão
Independente de credos, etnias e doutrinas, não aceitamos nenhuma forma de agressão. Um chute desleal no futebol, um tapa, uma pedrada ou um tiro são formas de agressão que abominamos. Então, como a humanidade pode admitir uma invasão territorial ou uma guerra? Há sangue, desespero e mortes. Isso é conduta abominável.
Insanidade
Quando eclodem guerras surgem sempre algumas “justificativas”. Ora, guerras são injustificáveis. Existe um histórico de guerras que é mais do que o suficiente para demonstrar que a beligerância é um desatino. Aliás, uma insanidade. O pior é que surgem estrategistas para fazer comparativos entre batalhas. Ora, o passado ruim não é para ser repetido. É para ser evitado. Ou será que já não existem mais os homens de boa vontade?
Palhaço feliz
Não bastassem os mísseis no Leste europeu, por aqui os meus ouvidos prosseguem sob intenso bombardeio dos carros de som. Ontem fui acordado pelos alto-falantes do circo. Apesar do meu característico mau humor matinal, a mensagem foi um alento. Sim, de acordo com o anúncio do carro de som, entramos nos últimos dias do circo em Passo Fundo. Meus ouvidos de palhaço agradecem.
Carnaval
Pandemia e não temos carnaval de rua e nem nos clubes. Mas, ao que parece, a folia de Momo foi transformada em baladas por todos os cantos. Seriam baladinhas isoladas ou imensas festas? Ora, logo teremos a resposta. A dimensão das festas no carnaval será proporcional às filas no CAIS da Petrópolis nos próximos dias.
Pulguinha
Sabe, quando aquela pulguinha que fica atrás do lóbulo auricular envia um sinal? É porque tem algo para acontecer. As pulgas sabem das coisas. Então, pelas mensagens que recebo da minha siphonaptera de estimação, logo teremos um escândalo por aí. E tem muita lógica!
Trilha sonora
Procol Harum (Gary Brooker) - A Whiter Shade of Pale