OPINIÃO

Voltam as catacumbas

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Quando voltamos o olhar para origens das guerras somos inclinados à memória das priscas eras, tempos tribais e era antiga, depois na idade média. O motivo bélico é apresentado como conquista territorial, mas raramente o signo da pura liberdade de um povo era a prioridade. Estes aspectos, mal ou bem simulados, continuam impulsionando a prepotência do mundo moderno em nova erupção de governos autocratas. A democracia que surgiu como musa global ornamentando os pactos internacionais de segurança e paz é eivada de traições. A perversidade da guerra que o presidente russo, Vladimir Putin, inventou contra a Ucrânia, já é catastrófica. O presidente ucraniano, desde que começaram os ataques de Putin, e pressionado pela mobilização popular nacionalista apresenta-se como convertido, disposto a comandar a mobilização nacional. Zelenski vinha sendo fortemente contestado nas ruas pela nação que é a maior economia nas cercanias da Rússia. Suas junções mais do que suspeitas denunciavam rumo contrário à democracia. Hoje ouve o clamor cívico de um povo que construiu uma comunidade forte, culta e rica. E a mobilização da Ucrânia é de defesa de sua soberania. Enfim, a guerra deflagrada materializa o ódio entre irmãos ou entrelaçados. Mas a guerra é guerra. É sempre injusta por que atinge os mais vulneráveis, famílias que trabalham e não vivem com armas na mão. Os destroços afligem inocentes. Pessoas de bem fogem dos confrontos arrastando crianças, velhos e adultos, sem tempo para chorar. E tudo fica mais difícil. Além da atrocidade do combate, o frio agrava as condições de fuga. Nacionais e moradores temporários abandonam o território ucraniano. Há desespero na fuga. A Otan oferece ajuda logística a Kiev, mas são as organizações civis que os socorrem na evacuação que já atinge um milhão e meio de ucranianos. A Polônia é o país que mais recebe refugiados. Varsóvia de braços abertos. É também a economia mais forte, seguido pela Eslováquia, Hungria, na recepção aos refugiados. Há uma multidão de fugitivos que se abrigam na fronteira Oeste, escondendo-se em igrejas e abrigos subterrâneos. A perseguição aérea obriga quem foge do conflito a alojar-se nos redutos de catacumbas, tal como os cristãos alijados e perseguidos pelos romanos. Originariamente as catacumbas eram cemitérios  em escavações nas imediações de Roma. Ali os cristãos sepultavam seus mortos. As escavações também serviam para encontros clandestinos da cristandade. Hoje, na era tecnológica onde tudo é moderno, temos a regressão da barbárie onde as catacumbas servem novamente de abrigos, entre a memória dos sepulcros. Em Roma são em torno de 40 catacumbas, entre as mais famosas as sepulturas de São Pedro e São Paulo apóstolos, executados na perseguição ao cristianismo e ao judaísmo. Após o ano 315 o imperador Constantino liberou o direito à sepultura aos cristãos.

 

Popularidade

O presidente russo, Vladimir Putin, a custos altamente comprometedores para a democracia implantou autoritarismo híbrido, adotando o capitalismo em vários de seus princípios. O país deu um salto em sua economia, mas o grande investimento que priorizava educação e saúde passou a ser no potencial bélico. Com essa base de poder armado adotou autoritarismo pleno em Moscou.

 

Rompimento

Alvejada a usina nuclear de Zaporizhzhia, embora não atingida a instalação central de urânio, está rompido o respeito aos tratados internacionais. Uma explosão nesta usina nuclear seria a completa destruição da Europa. As habilitações de diálogo pela paz exigem completa exaustão das forças do planeta. A vida humana está em perigo. Até mesmo um cessar fogo, com vitória de etapas em favor de Putin será sério comprometimento da democracia. Yuval Harari, Baumann, e Steven Levitsky & Daniel Ziblatt, têm advertido claramente sobre o rompimento da cooperação global. O feitio da guerra barbariza o clima democrático e estimula o autoritarismo. O próprio presidente brasileiro Jair Bolsonaro segue a tentativa de desequilibrar a relação de poderes, acossado pelas pesquisas eleitorais. Por isso o fascínio pelo presidente russo. O governo brasileiro, que nada fez para estimular a produção de ureia pela Petrobras, agora se refestela perante Putin alegando acesso à importação de fertilizantes.

 

 

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