OPINIÃO

Expodireto Cotrijal 2022

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Imagino que você, nessa semana (7 a 11 de março de 2022), andou passeando pelo Parque da EXPODIRETO COTRIJAL 2022. E, seja você produtor rural ou não, ou exerça ou não qualquer outra atividade ligada à agricultura, acredito que, diante de tudo que viu, ao cabo da visita, não teria maiores dificuldades para responder à seguinte pergunta: existiria algum problema na agricultura brasileira que não tenha solução tecnológica (produto ou processo) disponível?

A questão aparenta simplicidade, mas é complexa. A solução de alguns problemas que afetam a agricultura, brasileira e mundial, passa pela tecnologia de produção, mas vai além. Apesar da oferta tecnológica, que é pródiga, há problemas que clamam por solução. E quais seriam os pontos mais críticos? Onde se concentram? Não bastaria usar a tecnologia disponível e problema resolvido?

Um levantamento, recente (Agronomy Journal, set. 2021, DOI: 10.1002/agj2.20835), feito por pesquisadores da Universidade da Georgia, para a agricultura americana, pode ser um bom referencial. Os mesmos pontos críticos que ganharam destaque nos EUA, a partir do painel de especialistas que reuniu gente da área industrial, do meio acadêmico e do sistema produtivo, também, na minha visão, sobressaem-se no Brasil.

O uso de químicos na agricultura: herbicidas, fungicidas, inseticidas, etc. A oferta é ampla e, concorde-se ou não, sem o uso desses produtos, na atualidade, não se teria como produzir alimentos, fibras e energia para suprir a demanda mundial. Mas, o mau uso grassa, criando problemas de difícil solução. São exemplos: a indução de resistência em plantas daninhas (buva, azevém, leiteiro, amargoso, pé de galinha e caruru, por ora). A calendarização de aplicações, em vez de monitoramento das lavouras. O uso de produtos sem ação para o problema alvo. A não observação de princípios básicos de tecnologia de aplicação (pontas, vazão, condições ambientais, deriva, etc.). E, a ameaça de, pelo mau manejo, criar resistência de fungos aos fungicidas, caso da ferrugem da soja.

A estiagem que ora assola o sul do Brasil e seus impactos, que extrapolarão os limites da agricultura, dizem muito. A solução de irrigação generalizada, na escala das nossas lavouras, não tem viabilidade de curto e, talvez, nem de longo prazo. Também, não exploramos os recursos do ambiente como poderíamos ou deveríamos. Práticas nefastas, como o pousio no inverno ou arremedo de cultivos de cobertura, ainda são dominantes. Usar o solo 365 dias por ano, com cultivos que gerem rendas ou com plantas prestadoras de serviços ambientais, carece maior adesão. Indiscutivelmente, construir a resiliência dos sistemas agrícolas frente às flutuações climáticas extremas exige atenção, com destaque para manejo de solos.

Agricultura é atividade econômica. A gestão dos custos variáveis, em sintonia com o mercado, e, acima de tudo, a gestão dos custos fixos, cuja diluição, em apenas uma safra por ano (na estação primavera-verão), pode ser fatal, não podem mais ser ignoradas.

A percepção pública da agricultura, fora do mundo rural, demanda cuidado especial. O mundo urbano cria mitos, caso dos OGMs, que não tem sustentação, mas que, pela opinião pública, podem, inclusive, definir tendências de consumo e moldar mercados.

Há necessidade de novas competências profissionais para se lidar com a complexidade tecnológica usada na agricultura moderna. O uso de máquinas com eletrônica embarcada, lidar com genética avançada, moléculas químicas de última geração, gestão de processos, etc., estão a exigir que a formação das nossas escolas de Agronomia seja mais voltada para o operacional no campo do que para o cientificismo acadêmico.

A oportunidade para a inovação aberta é evidente. O melhor de cada empresa, respeitando-se o direito de propriedade intelectual, reunido em um único produto ou processo.

E, por fim, o controle de qualidade dos insumos utilizados no campo (sementes, fertilizantes e químicos, por exemplo) e, pelas boas práticas de cultivo (ainda sem adoção ampla), buscar a garantia de segurança dos alimentos produzidos.

PROMOÇÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon:

Quem adquirir a versão Kindle, querendo, GANHARÁ UM EXEMPLAR DO LIVRO IMPRESSO SEM QUALQUER CUSTO (apenas a despesa postal para os de fora de Passo Fundo). Promoção limitada ao estoque de 500 exemplares.

Gostou? Compartilhe