Ao passo que a guerra da Rússia contra a Ucrânia se desdobra, muitos são os fatores e variáveis que podem influenciar diretamente o conflito e diversos cenários se abrem nesta complexa conjuntura. Um deles, por mais remoto que seja, é a solução por via diplomática. Cabe lembrar que essa via está prejudicada, pois, é difícil para um país que está sendo bombardeado injustamente, sentar-se com o inimigo para negociar uma saída diplomática. Mas ela existe e dependeria do mútuo entendimento entre os países, com a possibilidade da Ucrânia em reconhecer a autonomia das repúblicas separatistas e da Crimeia. Por outro lado, torna-se remota a demanda de Putin para desmilitarizar o país, sendo algo difícil para a Ucrânia aceitar, tendo em vista a sua resistência até aqui.
Uma guerra rápida
Neste cenário, a Rússia escala ainda mais o seu poder convencional de fogo, criando mais destruição no curto prazo, principalmente, pelo domínio aéreo, ao passo que vai dominando as principais cidades da Ucrânia por via terrestre, desde aquelas que dão acesso ao Mar Negro, para cortar esse canal estratégico até a Capital, Kiev. A Rússia buscaria controlar ou destruir a infraestrutura básica do país, como energia e comunicações, criando uma situação extremamente delicada, com a baixa significativa de soldados e civis ucranianos. Na sequência, muito provavelmente, instalaria um regime a serviço de Putin. Aqui, o Zelensky fugiria (para liderar o seu povo do exílio) ou seria assassinado. Seguiria também cada vez maior a crise de refugiados, buscando um lugar fora do controle russo. Mas, para isso, a Rússia teria de driblar a resistência ucraniana, algo que ainda não atingiu. Risco alto para a insurgência nesse cenário. Aqui as sanções ocidentais têm papel relevante, caso Putin se sinta ameaçado e isolado, o fazendo recuar – ainda mais se a China se afastar da conjuntura.
Uma guerra longa
Neste cenário até seria provável um deslocamento de Zelensky à porção ocidental da Ucrânia. Hoje, se pegarmos o mapa do avanço russo, percebemos que o domínio avança mais rápido na porção oriental, que engloba o leste ucraniano, deixando um bolsão na parte ocidental, a partir da divisão do Rio Dniepre. Assim, Zelensky estaria perto das fronteiras dos Estados membros da OTAN e receberia por meio delas a ajuda necessária para enfrentar o avanço russo, que se desdobraria muito provavelmente em uma guerra de atrito, longa e custosa, sem alteração de regime. O cenário trabalha com um avanço lento por parte de Putin, derivado de problemas logísticos e até de financiamento da operação, postergando o domínio absoluto de grandes cidades, dando espaço para que o Ocidente forneça material bélico e ajuda humanitária em grande escala.
Guerra global
Não podemos descartar uma guerra no contexto europeu e global, em que pese ser um cenário mais remoto. Aqui, a Rússia buscaria se expandir também para outros países não membros da OTAN, como a Moldávia ou até mesmo por algum erro grosseiro na estratégia de guerra, atinja algum membro da OTAN, o que prontamente deveria acionar a resposta defensiva. A narrativa de Putin muda a cada semana, informando inclusive que o próprio envio de armamento à Ucrânia (inclusive caças) seria uma declaração de guerra contra a Rússia, escalando para um conflito maior, uma vez que deu um passo largo e é difícil de recuar.