OPINIÃO

As novas normais climatológicas do Brasil

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O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão responsável pelo monitoramento climático do Brasil, lançou, na última quarta-feira, no marco das comemorações do Dia Meteorológico Mundial (data de criação da Organização Meteorológica Mundial - OMM, 23 de março de 1950), a edição das novas “Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020”. A obra, em versão digital, encontra-se disponível para download gratuito no portal do Inmet.

As novas “Normais Climatológicas do Brasil 1991-2020” seguiram as diretrizes da OMM (WMO nº 1203, de 2017). Envolvendo, análise de consistência dos dados, metodologia de cálculo e obediência ao período de referência 1991-2020. Sobraram, nessa atualização, 271 estações meteorológicas de superfície, espalhadas pelo território nacional. E, destaca-se, Passo Fundo está entre essas. E, mais importante, a estação meteorológica de Passo Fundo (Estação CP 83914), em operação desde agosto de 1912, mereceu, em junho de 2021, o reconhecimento/credenciamento da OMM para integrar o seleto grupo de estações com séries de observações centenárias no mundo.

Uma das obras seminais da climatologia gaúcha é “Memória sobre o clima do Rio Grande do Sul”, de Ladislau Coussirat de Araújo, que era engenheiro civil, professor de meteorologia e diretor do Instituto Meteorológico da Escola de Engenharia de Porto Alegre. Coussirat de Araújo deu por finalizado o seu livro em novembro de 1929 e morreu cerca de 30 dias depois, em 2 de dezembro de 1929. A obra seria publicada, postumamente, em 1930. E, nela, a incipiente série de dados de Passo Fundo (1913 a 1928) serviu para subsidiar a, atualmente, consagrada divisão do Estado em regiões climáticas. Ainda são mantidos, com alguns aperfeiçoamentos, os grandes contornos propostos por Coussirat de Araújo.

A OMM define 30 anos de observação sistemática para caracterizar uma normal climatológica. E, para comparação de climas, estabeleceu os chamados períodos de referência ou padrões. São eles: 1901-1930; 1931-1960; 1961-1990; e 1991-2020. Fora desses períodos, evidentemente, podemos ter as chamadas normais intermediárias. Assim, Passo Fundo teria a sua primeira norma climatológica intermediária, 1913-1942, que pode ser encontrada no livro “Contribuição ao estudo do clima do Rio Grande do Sul”, do médico e meteorologista Floriano Peixoto Machado, publicado em 1950, pelo IBGE.

Outra obra que merece destaque, apesar de se limitar a replicar os dados de Floriano Peixoto Machado, é “Clima do Rio Grande do Sul”, do geógrafo José Alberto Moreno, de 1961. Moreno, com o referencial teórico da Geografia, qualificou a análise e a representação do Clima do Rio Grande do Sul.

O Inmet, ao longo do tempo, tem publicado compilações de normais climatológicas padrões da OMM, 1931-1960, 1961-1990 e 1991-2020, além de uma para o período intermediário 1981-2010, que é muito usado em cenários de mudança do clima global. Passo Fundo está presente em todas. Então, que mudou nas normais climatológicas de Passo Fundo? Há alterações no nosso clima?

Vejamos, por restrição de espaço, apenas algumas variáveis dos regimes térmico e hídrico, anuais, apresentadas nessa ordem 1913-1942 x 1931-1960 x 1961-1990 x 1981-2010 x 1991-2020. Temperatura média das mínimas (ºC): 12,3 x 12,8 x 13,2 x 13,3 x 13,4; Temperatura média das máximas (ºC): 23,6 x 23,5 x 23,6 x 23,7 x 23,9; Temperatura média (ºC): 17,4 x 17,6 x 17,7 x 17,7 x 17,8; e Precipitação acumulada (mm): 1714 x 1658 x 1803 x 1908 x 1931.

Não é difícil perceber, que, pelos dados, desde a nossa primeira normal (1913-1942) até a atual (1991-2020), houve elevação de temperaturas do ar, especialmente das mínimas (nossas madrugadas estão mais quentes, 1,1 ºC), e chove mais em Passo Fundo (foram adicionados 217 mm no total anual de chuva).

As razões que justificam a manutenção do sistema de observações meteorológicas de superfície são muitas. Uma delas foi posta aqui: conhecer o nosso clima e o rumo para onde estamos indo. Mas há outras. Muitas outras!

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