OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Enquanto a guerra russa contra a Ucrânia se desdobra, os cenários geopolíticos vão se alterando e demonstrando a estratégia dúbia de Putin no teatro terrestre, com o reagrupamento de forças e tomam lugar as mais diversificadas narrativas. Muitos especialistas têm afirmado que estamos passando por uma reconfiguração da política internacional, em termos de poder. Considero que falar em uma nova composição de poder e de forças nas relações internacionais ainda carece de evidências substanciais. Evidências que realmente possam definir o que mudou no jogo, uma vez que temos um conflito ainda regional, com o distanciamento das potências ocidentais e da OTAN, em que pese as consequências da guerra sejam de âmbito internacional, dado que vivemos em um mundo globalizado e interdependente. Nessa mesma seara, tomou proporções interessantes a declaração russa, por parte do vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, de que o BRICS estaria no centro de uma Nova Ordem Mundial.

 

BRICS 

O BRICS significa Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, sendo uma espécie de aliança entre esses países e não um bloco econômico. Fundado em 2009, organiza cúpulas entre os seus Chefes de Estado, bem como ministros de finanças dos países membros. O objetivo principal é a cooperação intergovernamental em questões econômicas. Para alguns, o BRICS visaria a redução da dependência financeira dos membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao tentar estabelecer um novo contraponto ao modelo adotado desde a famosa Conferência de Bretton Woods, que colocou o dólar como a moeda padrão nas transações internacionais, firmando o Ocidente. A discussão sobre o modelo mais adequado surgiu, principalmente, a partir da reação russa às sanções impostas pelas potências ocidentais, tendo como ponto central, em um primeiro momento, a retirada de alguns bancos (não todos) russos do sistema SWIFT. A China, por seu turno, teria um modelo substitutivo ao SWFIT, o Cips – mas ainda com alcance limitado, se comparado à atual ordem financeira internacional. Nessa conjuntura toda já se especula também sobre o novo papel das moedas digitais.

 

Nova Ordem Mundial? 

Enquanto Putin isola a Rússia e sofre, a cada semana, novas sanções, no plano da narrativa apresenta como a verdadeira solução para se contrapor ao sistema financeiro internacional, embalado pela retomada do rublo, uma vez que agora vai solicitar os pagamentos pelo gás e petróleo em moeda russa, uma ação que trará mais efeitos internos, isolando Moscou da cena internacional. Enquanto a sua estratégia de guerra no campo terrestre se esvai, Putin enfrentará muitos desafios. O principal deles é que o BRICS no centro de uma Nova Ordem Mundial é uma opção muito remota, se comparado com a força do padrão dolarizado da economia, estando, portanto, muito mais no plano da narrativa do que no fático. Ao passo em que a China ainda não tenha se posicionado como aliado preferencial da Rússia, em termos econômicos e militares, coloca Putin em uma situação desafiadora, já que o PIB russo é inexpressivo, a guerra não avançou como desejava e as sanções o tenham isolado. Ainda é muito cedo para se falar em uma Nova Ordem Mundial, enquanto muitas questões ainda devem se assentar no tabuleiro geopolítico.


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