Santarém e os xaropes
Em muitos anos de convivência, tive sempre muitas afinidades com Argeu Santarém. Conheci-o no formato impresso, em O Nacional e no Jornal de Ronda (efêmera publicação do próprio), que nunca faltavam na mesinha no exíguo espaço do DA João Carlos Machado. Depois, quando vim para Passo Fundo, o encontro foi inevitável. Nos tratávamos como Santa e Schina, bebemos juntos, trilhamos o mesmo caminho ideológico, rimos, discutimos e até deixamos o copo de lado para beliscar uma costela no Amadeo. Porém, sempre reclamei de um hábito inseparável do Santa. Ele evitava algumas pessoas que classificava como chatas. E, parafraseando Flávio Caetano, dizia sempre que “Epicopan (xarope) nem falar”. Considerava isso um exagero ou falta de jogo de cintura. Ora, pensava eu, um xarope até pode ser divertido. Pois bem. Até poderiam ser divertidos, mas, indiscutivelmente, eram chatos.
O tempo passou, o Santa nos deu um drible silencioso e trocou de Oásis. Agora, sem o grande parceiro, aos poucos também comecei a evitar Epicopans novos e antigos. Hoje não suporto aqueles xaropes que falam as mesmas coisas, sem repertório, não aceitam o debate e têm um vácuo cerebral. Então, lembrei-me do Santa e da sua aversão aos xaropes. Pensei um pouco, bem pouquinho para não esfumaçar os cabelos brancos, e concluí que o problema dos chatos é que eles nunca deixarão de ser chatos. Ora, o Santarém estava coberto de razão. Chato incomoda até por telepatia. Agora, chego à conclusão de que perdi muito tempo com essa turma desagradável. E, obviamente, reconheço que o Santa tinha toda a razão. Resumo da ópera: chato é chato e a melhor opção é a distância.
De volta ao Batatas
A pandemia foi golpe forte que também interrompeu a minha relação com o Batatas. Fisicamente, é claro, porque afetivamente nada mudou. A distância até aumentou o meu desejo de respirar aquele clima underground. A minha ausência provocou saudades recíprocas. Para suprir a falta da minha presença, a turma do Batatinhas forrou uma parede com edições dessa coluna. Sim, jornal também vira quadro. Eu tinha que ver o Batatas depois de tanto tempo. Então, já que decretam até o inimaginável, não vou esperar 100 anos e decretei uma fuga autoconsentida na pandemia. Enfim, voltei ao Batatas com um gostinho de pecado. O retorno foi tranquilo e o emocional controlado com cerveja de trigo.
A galera mudou muito nesses dois anos e um mês. Para os olhos foram apenas troca de encantos, pois a beleza se reveza em todos os cantos. E sempre encanta. Aliás, agora com mais espaço, tem até dois banheiros, o que representa significativa diminuição da fissura na fila. Senti firmeza, pois lá todos trabalham utilizando máscaras. Zé Tendeu continua voando naquele corredor. Gringo assumiu as panelas, Elias e Zimerman comandam drinks, chopes e muito rock na caixa. Quarta-feira, não havia show no Menor Palco do Mundo. Mas o clima estava em alto astral. Fez bem entrar na toca.
Decoro
Educação, respeito e postura são indissociáveis da conduta democrática. É aquilo que também podemos interpretar como elegância em qualquer situação. Isso, obviamente, quando o córtex cerebral não ficou de molho no hipoclorito de sódio.
Zazueira
Já que a zoeira toma conta do asfalto urbano, bem que poderíamos promover um concurso mundial de ronco dos motores. Teríamos a classe quatro e duas rodas. E, ainda, a adaptada para bicicletas motorizadas. Trabalho árduo para os jurados. Mas seria um baita som!
Escândalo
Querem saber mais, né? Pois bem, será em local onde as palavras são pronunciadas em sonoridade que destoa do tradicional sotaque passo-fundense.
Trilha sonora
Ren Woods – Aquarius