“A paz esteja convosco” é primeira fala de Jesus Cristo ressuscitado dirigida aos discípulos. Mostra a eles as marcas da crucifixão e novamente diz: “A paz esteja convosco” e repete oito dias depois, no segundo encontro: “A paz esteja convosco” (João 20,19-31). Os discípulos acompanharam toda violência sofrida por Jesus, desde os falsos testemunhos, os deboches, a tortura e a morte. Tinham motivos suficientes para cultivarem o desejo de vingança e alimentarem raiva e ódio contra os torturadores. Também temiam pela sua vida por serem seguidores do mestre Jesus, por isso estavam cheios de medo. Viviam um contexto de violência e, portanto, sem paz.
Jesus que foi a vítima da violência, depois de ressuscitar, mantém os mesmos ensinamentos e, nesta hora, sobretudo sobre a não violência. Quando os anjos anunciam o seu nascimento em Belém falam de “paz na terra”; nas bem-aventuranças Jesus chamou de “filhos de Deus os que promovem a paz”, antes de sofrer a morte na despedida disse “deixo-vos a minha paz” e agora ressuscitado confirma “a paz esteja convosco”.
As guerras que estão em andamento, particularmente da Rússia contra a Ucrânia da qual temos mais informações e imagens, provocam a reflexão, o estudo e a oração sobre o tema da paz. As imagens das guerras são suficientemente fortes para nos tirarem da indiferença. Todas as formas de violência geram falta de paz e por isso todas merecem a devida atenção.
A Campanha da Fraternidade de 2018 Fraternidade e superação da violência, com seu lema Vós sois todos irmãos. (Mateus 23,8) ensinava: “À luz da palavra definitiva de Deus que nos é dada por Jesus é que toda a delicada temática da violência (...) recebem uma resposta definitiva. Os escritos do Novo Testamento nasceram à luz da Páscoa de Jesus e todos a refletem de alguma forma. O centro do Novo Testamento é Jesus que é por excelência uma pessoa não violenta”.
Os gestos supremos de não violência da parte de Jesus estão reservados para as horas em que ele sofre as maiores violências, no momento de condenação, da tortura e da morte de cruz. É massacrado na sua dignidade com falsas acusações; ridicularizado na realeza com uma coroa de espinhos e crucificado como um malfeitor de primeira linha. Tudo isto tem como resposta aquilo que já havia ensinado anteriormente: a violência não se resolve com violência; as mentiras são sanadas com a verdade e a transparência; a ofensa e a agressão se curam com perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”; aos assustados e medrosos por causa da violência, lhes devolve a paz e a serenidade.
Neste encontro do Cristo ressuscitado com os discípulos Jesus repete um ensinamento fundamental da fraterna convivência humana, o perdão. Fala do perdão como um dom do Espírito Santo pois, naturalmente, há uma resistência ao perdão. Assumir o que se faz de errado, - ou como se diz em linguagem religiosa de pecado – arrepender-se e confessar há quem considere esta atitude consciente como fraqueza e rebaixamento. O mesmo vale para quem concede o perdão. Cristo dizia claramente que a construção da paz passa pelo exercício permanente do perdão, da misericórdia e da cura das feridas oriundas dos conflitos, divisões e violências.
“A paz esteja convosco” é mais que um desejo de paz. A presença de Cristo ressuscitado é a paz, como escreve São Paulo aos Efésios: Cristo é a nossa Paz (2,14).