OPINIÃO

Sem racismo todos crescemos

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O estado brasileiro como sociedade organizada e nação instalou-se nos mais perversos fundamentos da maldade humana. Séculos de escravidão incutiram a mais sanguinária rota de horror na consciência e formação de conceitos sobre justiça social. O estado patrimonialista formado na sua organização produtiva fundamentou sua pujança no crime absoluto de submissão ao trabalho dos escravos, sequestrados do continente africano. A atual geração, ainda que próxima ao período da escravatura, obviamente não é a civilização que aceitou passivamente o horror mais execrável de nossa história. Neste sentido é importante a celebração da Lei Áurea de 13 de maio de 1888, abolindo formalmente a escravidão. O que se perpetuou no consentimento cultural, é o sombrio da discriminação racial, irracional e imoral, que se impõe como suplício dificultando a plena inserção dos negros na vida cotidiana. O que se percebe hoje é o avanço do pensamento igualitário que reconcilia o ser humano. Embora a resistência tacanha e hipócrita de falsas eminências de nosso contexto da comunidade, a crença de mulheres e homens negros ou descendentes africanos, vem resgatando o justo prestígio racial, que sempre existiu mas não foi plenamente reconhecido. As fases de nosso crescimento moral, produtivo, material e cultural surgem em vários sentidos, quando o respeito humano eleva brancos, pardos e negros, numa mesma cooperação. Todos crescemos em idade, sabedoria e graça.

 

Altivez

A história de brasileiros abolicionistas é riquíssima, repleta de valores morais e culturais, ao lado dos que deram suas vidas pela causa, ou torturados pelos sicários amparados na lei imunda então vigente. Na mobilização de líderes culturais, o manifesto lançado pela Confederação Abolicionista, redigido por José do Patrocínio, Aristides Lobo e André Rebouças. A peça escrita pelos intelectuais libertários, em 1883, impunha-se pela energia das ideias e força da contribuição apresentada. Um libelo formidável contra a covardia do então Legislativo da nação. Na sessão solene de 26 de agosto do mesmo ano, o libelo lido pelo André Rebouças denunciava em verve esplêndida, quanto era ruinoso o trabalho escravo para a vida brasileira, inclusive economicamente. O documento foi considerado a “Carta Magna” dos nossos abolicionistas. Toda a luta negra foi altiva, sem mendicância, mas altiva.

 

Já somos melhores

A arte, cultura, ciência, e a abertura da mentalidade na mídia, tudo tem a ver com o movimento de memória de valores dos defensores e aspirantes à liberdade histórica. Enfim, verte em várias fontes da cooperação civil o acesso ao conhecimento da negritude. Brancos negros e cidadãos de todos os matizes ficam melhores. A arte genuína e a mostra da contribuição da negritude para nosso desenvolvimento emerge em todos os quadrantes da comunidade brasileira. Observamos o trabalho da inteligente e simpática Fernanda Carvalho (RBS TV) que aludiu à busca que realizou sobre seus ancestrais. Nossa história, corrigindo discriminações, é a melhor história. Uma narrativa sonegada durante vários séculos, começa a ser conhecida. São aspectos da regeneração da consciência popular que já não permitem o controle da submissão.

 

Ler

Mesmo no começo do século XX, após abolição, persistiam bolsões discriminatórios deste perverso liberalismo selvagem. Empregados de fazendas eram barrados no direito de frequentar escola. Professores que se dispunham a ensinar o povo, especialmente descendentes de escravos, eram banidos em diversos municípios. A propósito, faleceu dias atrás, Dona Carmen Davis Amandola. Mobilizadora social em favor do acesso à alfabetização, resumiu bem sua rebeldia: “A Casa Grande surta quando a senzala aprende a ler”.

 

Novos escravos

A luta contra a exploração nos casos análogos à escravidão teve uma luta pertinaz de dona Pureza, que procurou seu filho durante anos, levado por exploradores do trabalho. Liderou movimento de resgate dos trabalhadores. Com a mobilização de entidades civis e atuação de órgãos de fiscalização, nos últimos anos foram libertados 57 mil operários.

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