OPINIÃO

A multidão de famintos

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Há uma multidão de brasileiros que sente a dificuldade de vencer o cotidiano da sobrevivência. Falamos na careza do alimento. Essa maioria que ainda consegue alguma renda na falta de emprego, no subemprego ou vivendo de “bico”, vê de perto o que se chama de miséria. Na linha mais abaixo o reduto crudelíssimo ao ser humano, com a fome. O país em que vivemos é um dos celeiros do mundo, mas a incapacidade de gestão de governo reduz a abundância de comida de uma terra produtiva ao abismo da má distribuição. O grande elo de solidariedade na própria vida familiar está se esvaindo no sentido de acalento mínimo de pais e filhos. Não se põe mais a mesa, ritual sagrado da vida, eis que a comida, por mais modesta, já não aparece. O chamado cálido que reúne a família, que os franceses aclamavam como expressão de resistência na hora da crise mais dura da nação: “a table”, vamos à mesa, aqui já soa como expressão saudosa, a dor da fome. Esta necessidade que mal suprida afeta o corpo, a alma e a inteligência. Essa multidão empobrecida demais é a soma de mãos que já não produzem. A nudez da mesa se agrava com o alto custo para a maioria dos brasileiros, diante do preço cada vez mais incompatível do gás de cozinha. Este, chaga a comprometer até 11% da renda dos pobres decadentes, conforme estudo recente no estado de São Paulo. E estamos falando do estado mais rico do país. Os graus de pobreza já afligiam nossa gente antes mesmo da pandemia ou da guerra da Ucrânia. A fragilidade explosiva pela sobrevivência está no caminho da pátria. E onde há fome, não há horizonte de liberdade. Ao mesmo tempo avultam-se as diferenças nas camadas sociais. As queimadas de nossas florestas e a exploração criminosa da mineração clandestina geram dificuldade até para os habitantes de áreas reservadas, danificando a pesca a coleta dos frutos da mata aos nativos. Nem se fala nos salários exorbitantes de apaniguados da nação. Menos ainda dos que vivem privilégios ímpios do poder político que nada fazem pelo país e se jactam de mansões novas e rendas inexplicáveis. O certo é que o crime da concentração de da nossa riqueza distancia cada vez mais os filhos da mesma pátria. E vamos parar com a omissa alegação de que a crise é globalizada. O aviltamento do trabalho é problema que tem solução. Trabalho digno não pode ser expressão jogada ao limbo. É preciso oportunidade a todos os que querem saciar a fome. “...Pues la tierra no da fruto, si no la riega em sudor”, já advertia Martin Fierro.

 

Genivaldo

A ação absurdamente desproporcional que levou o pobre Genivaldo Jesus dos Santos à morte é revoltante. Sua pele escura não deu chance ao reconhecimento como pessoa, nem com o nome de Jesus dos Santos, no Espírito Santo, nas mãos de policiais que são pagos e treinados para defender a vida do cidadão. Esta violência direcionada, como no massacre da Vila Cruzeiro no Rio, revela afronta étnica, flagelando negros em 79% dos fuzilamentos.


Rússia

O ministro da economia da Alemanha reforça advertência já apontada a respeito das pressões na guerra Rússia e Ucrânia. Robert Habeck diz que a coesão da União Europeia começa a se romper. Os protocolos de embargos ao fornecimento russo, principalmente no petróleo e energia, não se mostram aplicáveis num piscar de olhos como projetam os USA. A discussão sobre o fim da dependência de combustíveis da Rússia e territórios dominados, inclusive no leste da Ucrânia, está mais complicada. Interesses sobre petróleo e gás governam a guerra mundial deflagrada há mais tempo.

 

Inércia

A inércia de gestão que deixou faltar oxigênio em Manaus no socorro às vítimas da covid reflete-se no suprimento de trigo e do próprio diesel, o combustível que garante a mobilidade de nossa produção. Letargia frente a necessidades básicas, falta de governo!!

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