A IX Cúpula das Américas, em Los Angeles, EUA, será um importante marco à política externa de Washington na América Latina, sob a batuta de Biden, que vem acumulando desastres significativos na política internacional, podendo a cúpula ser mais um deles. O evento é organizado a cada quatro anos, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem como objetivo principal a integração hemisférica em temas diversificados. A grande questão geopolítica por trás dessa cúpula é o enfrentamento entre os EUA e a China. Beijing vem, nos últimos anos, ganhando espaço na América Latina a partir de seus programas de infraestrutura e investimentos (Belt and Road Initiative), do qual, mais de 20 países latino-americanos são signatários. A China é o principal parceiro regional, passando os EUA. O maior desafio americano é justamente reverter esse quadro e, para isso, o pragmatismo deveria ser a tônica, algo que não se observa na história das cúpulas. Biden, desde que tomou posse, tenta articular uma nova doutrina de política externa, a do confronto inevitável, no século 21, entre as democracias e as autocracias (aqui entende-se, principalmente, a China).
Pautas e ausências
As questões do encontro são diversificadas e, como anunciado pelo governo americano, giram em torno da democracia, imigração, retomada pós-pandemia, energias limpas e sustentabilidade, maior integração entre as cadeias produtivas e outros. No aspecto da democracia se esperam até compromissos formais dos membros presentes e do ponto de vista econômico, programas de infraestrutura para maior integração do continente, em competição com a China, que por ser uma ditadura, não tem se preocupado com os autocratas latino-americanos. Chamou a atenção a ausência do presidente mexicano, Andrés Obrador, que tentou ser um porta-voz do que seria a “esquerda oprimida”. A ausência mexicana é simbólica, uma vez que uma das pautas essenciais é a imigração, enquanto uma caravana de imigrantes se desloca ao norte do México.
Brasil
Do encontro entre Bolsonaro e Biden não são esperadas questões concretas. O governo americano, assim como fez com outros países, teve de deslocar comitiva para reforçar o convite de participação na cúpula, em risco de esvaziamento. Isso indica a falta de uma política externa clara voltada à América Latina e a incapacidade de aglutinação de Biden. A relação brasileira com os EUA é historicamente bem assentada, em que pese os percalços recentes, uma vez que Bolsonaro foi um dos últimos líderes a reconhecer a vitória de Biden, marcada por polêmicas. A questão maior é que um precisa do outro, nesse momento. Biden, para não esvaziar a cúpula, e Bolsonaro, para reforçar o vínculo estratégico com os EUA, tendo à vista o pleito brasileiro pela OCDE.
Desafio americano
O risco é a de a cúpula ser mais um dos inúmeros fracassos de política externa de Biden, não conseguindo aglutinar as lideranças latino-americanas em políticas concretas e, principalmente, eficazes para frear o apetite chinês, que avança com uma série de projetos e investimentos. Enquanto isso, os novos e velhos líderes esquerdistas da América Latina vão recriando o fantasma do imperialismo americano. As democracias devem se perguntar sobre quem são os melhores parceiros e projetos, doravante.