OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Enquanto o governo americano assegura mais um pacote bilionário de assistência à Ucrânia, a guerra vai somando mais de cem dias, sem qualquer previsão de término. Como alertamos desde o início do conflito, a relação entre a Rússia e a China será importante para o futuro da geopolítica, não apenas da região, mas globalmente. Em recente ligação telefônica do líder chinês para Moscou, algumas questões foram trazidas. Foi mencionado por Beijing o interesse em uma parceria “longa e sólida”, que possa estar conectada às questões russas da “segurança e da soberania”. As manifestações de Beijing sobre a guerra russa contra a Ucrânia são amplas e não firmam qualquer posicionamento mais assertivo contra Moscou, inaugurando uma espécie de ambiguidade estratégica sobre a guerra, somada a uma parceria potencial entre os países, que poderá ser fundamental à existência do regime russo. O grande temor de Putin, com o anúncio das sanções econômicas pelas potências ocidentais, é o isolamento da Rússia, principalmente no aspecto financeiro e de trocas comerciais, que poderiam ser amenizadas a partir de uma cooperação com a China. Antes mesmo da guerra [e provavelmente já antevendo a mesma] se falava de uma parceria “sem limites” entre os países. A China não reconhece que esteja em andamento uma guerra contra a Ucrânia, fazendo da neutralidade a sua política externa, mais preocupada em como se beneficiar da Rússia, inclusive em seus projetos de expansão global, a partir de projetos de infraestrutura.

 

As “pontes” 

Chamou atenção, nos últimos dias, o anúncio de uma ponte transfronteiriça entre a China e a Rússia, trata-se de uma ponte rodoviária sobre o rio Amur. O simbolismo dessa ponte para veículos é considerável, uma vez que evidencia, de forma concreta, como a parceria poderia evitar o isolamento completo de Moscou. Caminhões transitaram de ambos os lados, levando soja e madeira, pelos russos, e eletrônicos, pelos chineses. Os países esperam que a conexão possa reforçar o comércio bilateral, com grande circulação de veículos e pessoas. Além da ponte rodoviária, há também a previsão de lançamento de uma ligação ferroviária, ampliando as relações. O lançamento ocorre em meio ao crescimento vertiginoso dos casos de covid, na China. O primeiro trânsito dos caminhões sobre a ponte já traz o tom da parceria, ou seja, da Rússia como fornecedora de commodities, vislumbrando um excedente de suas exportações, afetadas diretamente pelas sanções econômicas do Ocidente.

 

A linha tênue 

A postura de Beijing possui objetivos pragmáticos e adota, em certa medida, o mesmo discurso do Kremlin sobre as potências ocidentais e a OTAN, sem adentrar em qualquer tipo de crítica direta à Rússia. O futuro de Moscou dependerá muito das reais intenções da China, que possuindo objetivos pragmáticos, não apoiará absolutamente Putin, para não perder qualquer benefício que surja aquém dos relacionamentos regionais dos países. Todavia, as pontes que estão sendo criadas não são apenas no campo narrativo e diplomático, mas começam a afetar a infraestrutura e o comércio bilateral entre os países, enquanto as pontes com o Ocidente vão se deteriorando, em um cenário de guerra sem previsão de acabar.


  


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