OPINIÃO

O empilhador de invernos

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Aino Victor Ávila Jacques desde 1938, nas suas palavras, tem empilhado invernos e, acrescentem-se, experiências. Um pouco dessa trajetória, pessoal e profissional, ele colocou no livro, recém-lançado, “Outras histórias”. Dos causos da “sua” André da Rocha (antigo 3º Distrito de Lagoa Vermelha, onde nasceu) ao legado deixado como professor e pesquisador da Faculdade de Agronomia da UFRGS, sobressaem-se lições de como evitar o deslumbramento pelos elogios fáceis ou o abatimento pelas críticas, destacando, com base nos versos do poema “Se (If)”, de Rudyard Kipling, “If you can meet with Triumph and Disaster/And treat those two impostors just the same”, que Triunfo e Desastre são dois impostores que devem ser tratados da mesmíssima maneira.

Não são, apesar de relevantes, as titulações acadêmicas que obteve (engenheiro-agrônomo pela UFRGS, 1963; mestre, 1968, e doutor, 1970, pela Universidade de Wisconsin) e tampouco os cargos que ocupou (professor titular e diretor da Faculdade de Agronomia da UFRGS, pró-reitor da UERGS, presidente do Conselho Superior da Fapergs, presidente da Fundação de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Sul ou as passagens como pesquisador visitante na Inglaterra e nos EUA), que conferem a respeitabilidade que o Professor Aino Jacques goza nas ciências agrárias, em especial na área de plantas forrageiras. Eu ousaria sugerir que, além da boa prática científica, a responsável maior foi a forma como ele soube lidar com pessoas, alunos e colegas, nos diversos cargos e instituições pelas quais passou, deixando um séquito de seguidores. Algo que fica patente nos depoimento de ex-alunos, de colegas professores, do Brasil e do exterior, coligidos no livro “Aino Victor Ávila Jacques – A saga de um setentão”, organizado, em sua homenagem, pela filha Tatiana, em 2008.

A humildade e o respeito são valores caros para Aino Jacques. E isso fica notório pelas referências dispensadas aos que o antecederam na pesquisa de plantas forrageiras nativas no Rio Grande do Sul, caso de Ismar Leal Barreto, que chama de “nosso Guru das Forrageiras”, e aos colegas que o acompanharam em tantas excursões científicas, verdadeiras caçadas de plantas, caso das “gurias da Botânica”, as professoras Ilsi Boldrini, Silvia Miotto e Hilda Wagner, e dos professores Carlos Nabinger e Miguel Miguel Dall'Agnol, pela forma que se dirige, in memoriam, ao professor José Germano Stammel, ou replica a lição para exercitar a humildade que aprendeu com Folke Skoog, o renomado professor de hormônios vegetais na Universidade de Wisconsin. Skoog era sueco e tinha um sotaque que dificultava a compreensão do inglês, inclusive pelos americanos. Além das suas aulas terem hora para começar, mas não para terminar. Os alunos fugiam dos cursos de Skoog. Aino não pode escapar e teve o privilégio, num final de aula, de vivenciar uma cena que nunca mais esqueceu, com o Professor Skoog, informalmente, se dirigindo aos alunos: “eu desconfio que meu curso nãos seja muito popular e quero que vocês me digam como posso melhorá-lo”. Um cientista da estatura de Skoog se colocar à disposição para ouvir críticas é algo raro.

A ressignificação da pecuária extensiva, cujo índice de produtividade, muito criticado, de 70 kg/ha/ano de ganho peso vivo, pode ser multiplicado em até 10 vezes, via manejo e utilização das pastagens naturais melhoradas (pela introdução de azevém e trevos no inverno, por exemplo), com o banimento da nefasta prática secular da queimada dos campos e o respeito aos limites para uma exploração sustentável dos campos nativos, ajustando-se a lotação animal à disponibilidade de forragem, sempre foram bandeiras do Professor Aino Jacques. Nas suas memórias, destaque para a discussão, desencadeada em 1997, sobre os Índices de Lotação Pecuária para o Rio Grande do Sul. O grupo da UFGRS chegou a ser “acusado” de defender “uma ciência do atraso”. Efetivamente, defendia a conservação e o uso sustentável das nossas pastagens nativas, tese que foi corroborada pelo ambientalista José Lutzenberger, no prefácio que assina, em defesa do Bioma Pampa, no chamado Livro da Farsul, publicado em 1997.

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