OPINIÃO

Cara no fogo e fumaça no MEC

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As assinaturas de senadores requerendo abertura de CPI para apurar o que se prenuncia escândalo no MEC somavam o suficiente. O governo Bolsonaro move-se com todas as forças para impedir a instalação da CPI. Atua com o poder de benesses aos parlamentares, buscando retirar assinaturas no requerimento pela comissão parlamentar que visa aprofundar as denúncias de irregularidades na destinação de recursos. Situação muito embaralhada. Se o palácio age abertamente para barrar a investigação é por que confia nas cartas de sedução do poder. Na série de acusações sobre a orientação do ex-ministro Milton Ribeiro veio Bolsonaro com um golpe de marketing dizendo que botava a cara no fogo pelo seu dileto ministro. Este, por sua vez, já havia citado recomendação do presidente para o tratamento privilegiado ao seleto grupo de pastores que disputavam e intermediavam recursos no ministério. Sem tirar a cara do fogo a movimentação do palácio agiu lépida para apagar a fumaça. Parecia tudo resolvido, na base do dito pelo não feito.


Privilégio

A ética republicana reacendeu o fogo do estranho compadrio confirmando o assento em decisões apontadas como sub-reptícias na influência sobre destinação de recursos oficiais. Essa confraria não republicana adotou os moldes de influência teocrática muito comum na era romana, afrontando princípios democráticos do Brasil. A Polícia Federal entrou na investigação. E o clube de apaniguados mereceu averiguações. A expressão romana “quod licet Iovi non licet bovi” (o que é permitido aos deuses, não é permitido aos bois). Vejam, o conceito já propagado por um ex-ministro que incitou passar a boiada, insiste em esconder debaixo do tapete flagrante distorção que aponta inclusive eventual existência de propina. Os envolvidos no estranho pastoreio continuam embevecidos pela aura falsa do privilégio no poder. E aqui cabe uma ressalva importante. Não devemos generalizar o ataque aos evangélicos. Cuidado. A atuação decente da religião tem prestado relevantes serviços sociais, atendendo pessoas desamparadas e angustiadas. O que se deve analisar no caso são os falsos profetas. Os que usam escaninhos políticos para ludibriarem a fé pública. A busca desenfreada do dinheiro, usando indevidamente as fontes do tesouro estatal leva ao perigo de crescimento de uma casta que usa o prestígio do bem para enriquecer às custas do povo. O poeta Públio Virgílio traduziu essa angústia da voracidade em auferir vantagens alheias: “Auri sacra fames, quid non mortalia pectora cogis” (ó maldita fome de ouro, o quanto constranges o coração humano). Usa a expressão “sagrada” fome de ouro como forte inversão do sentido, usual no clássico das figuras literárias, para enfatizar o aspecto imoral dos que não têm escrúpulo em aproveitar a religião. Repetimos: é uma minoria canalha que ludibria a boa fé religiosa. Nisso, a reputação do próprio presidente pode ser atingida no que se tornou um caso de polícia podendo ser também alvo de CPI.


Dívida

As pessoas de bem, sentem que estão imersas na dor pelos assassinados brutais de Bruno Pereira e Dom Fhillips. Principalmente pela falta de coragem oficial dos mandantes do país em reconhecer a luta heroica dos defensores de segmentos oprimidos pelo crime armado em muitos lugares, especialmente na região amazônica. Está difícil a cura pelas 670 mil mortes por covid e mais de 32 milhões nos casos de sobreviventes contaminados e sequelados. Ao mesmo tempo, o desemprego e queda vertiginosa nos setores de produção resultam no endividamento familiar. As faixas salariais menores estão baqueadas pela flagrante queda na redução de renda. A inadimplência, as dívidas pessoais, desencadeiam perigoso e crescente desconcerto na capacidade mental das pessoas. Temos uma riqueza enorme a ser melhor partilhada no Brasil, principalmente no combate à fome. A sociedade civil está mobilizada nas ações de socorro, com muito mais compaixão do que os agentes de governo. Como diz a canção gaudéria “eu não quero deixar pro meu filho, a pampa pobre que herdei dos meus pais”.   

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