Ódio armado
A crueldade do assassinato que vitimou o líder petista na Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, sem dúvida acelera o tormento da maioria dos brasileiros que querem a paz e democracia. As primeiras informações sobre a tragédia que abalou a família do líder petista, morto quando celebrava aniversário, numa festa familiar, mostra que o agressor agiu reiteradamente invadindo o local de confraternização, com fúria descontrolada para eliminar um líder adversário político. O repúdio pelo ato de ódio, segundo a versão que se apresenta, condena o absurdo criminoso em si e o contexto de excitação de violência. As formas de estimular as hordas remontam na péssima adoção de ameaças mais ou menos veladas, desde a inspiração esdrúxula do ex-presidente Trump nos EUA, que culminou com a invasão do Capitólio. O uso da violência para ditar hegemonia eleitoral na disputa presidencial evidencia-se nas ameaças contra juiz que ordenou apuração do escândalo no MEC, nos ataques com lançamento de fezes na caravana de Lula e outras formas de violência. As armadilhas de ataque à segurança das urnas eletrônicas não estão isentas de truculência, se considerar-se a ausência de comprovação das alegações contrárias ao sistema eletrônico do Brasil. A apologia do uso de armas, como se liberar armamento fosse prioridade, guarda uma insinuação de poder pela força.
Pela metade
O caso do assassinato, certamente está sendo investigado para esclarecer a motivação que levou uma agente penitenciário federal, como Jorge Guaranhos, a ameaçar e logo em seguida alvejar a tiros o militante petista. Não se trata de condenar o acusado antes do devido processo legal. É assustador, no entanto, perceber a forma ambígua como o próprio Bolsonaro se manifesta. Repele genericamente a violência, mas ao mesmo tempo, faz referência reducionista à tragédia reportando-se a circunstâncias de agressão pelos meios de comunicação por veiculações de caráter político partidário contra o bolsonarismo. Pretende, quem sabe, explicar o barbarismo? Esta manifestação parece tender mais à escoima, para uma verdade pela metade, ou o que se chama anfibologia de narrativa. No mesmo rumo o líder do governo, Ricardo Barros, do PP do Paraná, mesmo lamentando a morte de Marcelo, mostra-se reticente, e chega a comparar o extremo recrudescimento a uma briga de trânsito. Carlos Bolsonaro lança, a título de cortina de fumaça, a advertência de que o clima de extremismo é culpa da imprensa. É pobreza terminal nas razões que se possa discutir.
Cardeal Hummes
Na semana passada a imprensa registrou a morte, aos 87 anos, do Cardeal Cláudio Hummes. Tivemos a oportunidade de entrevistá-lo quando esteve na região como missionário de Igreja Católica, na assistência aos movimentos populares da reforma agrária. A ocupação da área pelos sem-terra, na Esquina Natalino, em Pontão, enfrentava forte repressão. O famigerado Major Curió representava o governo militar e comandava com força arbitrária a contenção do movimento que resultou na repartição social das terras. Sua ação pacificadora foi importante nas justas reivindicações dos colonos que hoje produzem em pequenas glebas. Sua trajetória como líder cristão e capacidade ecumênica, homem simples e de fé no povo sofrido foi reconhecida além das fronteiras nacionais. Seu nome chegou a ser cogitado na escolha papal. Devotava sua inteligência privilegiada ao solidarismo. Dom Hummes deixou exemplo da perseverança na missão cristã de justiça social.
Iza na Angola
Deslumbrante e comovente o espetáculo da cantora brasileira, Iza, na África. Com arte musical apresentou-se em Luanda, na Angola, que conquistou recentemente a independência de Portugal. A Jornalista Maju Coutinho acompanhou a atriz nas andanças pelos marcos históricos de raiz libertária da Angola. O resgate de origens africanas é o poder da arte rumo a uma paz de convivência humanitária que orgulha todos nós, num país que viveu terríveis assombros no período da escravidão negra. A cultura brasileira enriquece.