Lendo pensamentos
Mais do que branquear cabelos, a quilometragem da vida nos traz conhecimentos e oportunos atalhos. Não necessitamos ouvir uma frase completa, pois interpretamos expressões e até lemos alguns pensamentos. Final de tarde no Mercadão da Uruguai, gente bonita circulando e aproveitei para saber o que elas pensam sobre mim. Não me venham com rótulos de machista ou tarado, pois ainda nos é permitido ter atração por alguém. E, mesmo sem assédios ou galanteios, admirar o belo faz bem ao ego. Aos meus olhos, as novinhas permanecem lindas, pois não é pela minha idade que elas ficariam feias.
No primeiro corredor, tendo o colorido dos enlatados como fundo, dei uma recatada olhada para uma linda gatinha. Na rápida passagem, pude ler o que ela pensou naquele exato momento: “esse velhinho é bem simpático”. A ficha caiu, é claro, e segui amparado pelo carrinho de compras. Então mudei o foco do olhar e, em seguida, observei uma mulher que esbanjava elegância. Estaria na faixa dos 40 e algo mais, muito bom gosto ao vestir, além de um insinuante modo de caminhar sem perder a sobriedade. Discretissimamente, cruzamos olhares. Foi muito rápido, mas consegui ler o que ela pensou. “Parece legal, mas prefiro um carinha bem mais novo”. Após o balde de água gelada, segui focado nas compras e, com absoluto rigor, controlei os meus olhos para evitar novas decepções.
Conferi a lista, passei pelas carnes sem ceder às tentações, peguei os indispensáveis materiais de limpeza e, obviamente, fui namorar os encantos das gôndolas de vinhos. Enquanto conferia um rótulo português, eis que cruzou uma senhora com idade bem mais avantajada. Transferi o foco do rótulo para o lado e, instantaneamente, ela me lançou um olhar insinuante. Aliás, de fato, uma flechada. Instintivamente, esquivei-me com um compulsivo giro do pescoço. Então, como certamente ela também decifra pensamentos, deve ter lido aquilo que pensei. “Agora não rola mais. Mas se fosse antigamente, quem sabe?”. Antes de ir para a fila do caixa, peguei um vidro de Lea & Perrins, o legítimo molho inglês. Foi quando resumi o final de tarde e concluí que o mercado está muito difícil, mesmo em pleno Mercadão. Espero que ninguém tenha lido esse trocadilho no meu pensamento!
Galo branco
A relação direta do campo com a cidade foi interrompida por novos critérios e uma falsa modernidade. Lá pelos anos 1960, fecharam os moinhos coloniais que produziam maravilhas como a famosa ‘farinha para bolo de casamento’. Depois, acabaram com os abatedouros, o comércio de aves, embutidos e outras iguarias. Respeitem-se as exigências sanitárias, é claro, mas não nos privem do bom gosto e da qualidade. A situação é tão crítica que, atualmente, Pai de Santo quase enlouquece para encontrar um galo branco.
Palhaçada
O circo está na cidade. Ou melhor, o carro de som do circo transformou a cidade num picadeiro. E nessa gritaria nós é que somos os palhaços. Até quando a cidade continuará barulhenta? Sugiro aos amigos vereadores a criação de um dispositivo legal para exterminar o uso de alto-falantes nas ruas e calçadas de Passo Fundo. A cidade sem essa barulheira, certamente, subirá nos rankings que avaliam a qualidade de vida dos municípios.
Luto na Mesa Um
A tristeza tomou conta do Bar Oásis com a morte de Ruy Donadussi, presidente vitalício da Mesa Um.
Trilha sonora
Joan Chamorro e Alba Esteban – Tenderly