As relações internacionais do Século XXI trazem uma série de desafios ao contexto geopolítico mundial. Saímos de um “longo Século XX” com duas grandes guerras mundiais e uma contenda entre o Ocidente e os delírios expansionistas soviéticos, cujo zênite apresentou-se com a famosa crise dos mísseis. Com isso, veio a queda do muro de Berlim e a década de 1990 inaugurava a globalização em um sistema multilateral, com a atuação de organizações internacionais, cujo objetivo, praticamente utópico, era o de construir e manter a paz em nível global. Veio o Século XXI e com ele muitos desafios em meio a um mundo anárquico (sem qualquer tipo de coerção para frenar as volições mais perversas), hierárquico (onde manda quem pode, obedece quem tem juízo) e oligopolístico (onde poucos dominam a pauta internacional). O déficit de lideranças é, certamente, um traço muito característico dos momentos atuais, onde as organizações multilaterais enfraquecem frente aos novos desafios, diferentes do Século anterior e os grupos internacionais – G7, G20 e tutti quanti – não conseguem pautar a agenda internacional. Quando tentam, surgem as questões de mudanças climáticas, que se distancia da realpolitik, com a bolsa de apostas de líderes decadentes sobre a temperatura global daqui a algumas décadas. Surge talvez, um dos maiores desafios do presente Século: a guerra injustificada da Rússia contra a Ucrânia, abrindo um conflito no espaço europeu, com desdobramentos complexos, que envolvem desde a segurança alimentar, matrizes energéticas, cadeias produtivas, bem como o êxodo ucraniano, destruição de uma nação soberana e a morte de civis, em verdadeiros crimes de guerra.
“Líderes internacionais”
Nesse cenário todo, temos os líderes ocidentais. Biden com sua baixa popularidade e a política externa desastrosa, com um EUA que não consegue mais pautar a agenda internacional. A Europa com líderes sem expressão: Boris Johnson, no Reino Unido, renuncia, Mario Draghi, na Itália, também. Scholz, na Alemanha, com baixa popularidade, e Macron, na França, tentando emular o que já foi Merkel no passado.
A realpolitik
A realpolitik impõe um desafio aos líderes internacionais, acostumados com as narrativas do politicamente correto, de um mundo melhor e da sustentabilidade, sem experiência com o hard power ou até mesmo receio de se afirmarem como verdadeiros líderes! A falta de unidade entre eles, enquanto brotava uma nova guerra, soma-se às sanções econômicas impostas contra a Rússia, de futuro incerto, mas que mudam drasticamente as próprias políticas energéticas europeias, que em meio a discursos inflamados sobre um mundo sustentável, vão retornando ao carvão.
O futuro próximo
A grande problemática é que não sabemos o que esperar dos líderes internacionais. Por isso, Maquiavel perguntava aos príncipes se preferiam ser amados ou temidos. Os líderes atuais se perderam em meio a narrativas sem qualquer foco. Enquanto isso, Putin tenta construir pontes com a Turquia e o Irã (esse último para fornecimento de drones) e até mesmo tenta articular um polo de poder alternativo a partir dos BRICS. Nesse ínterim, as lideranças ocidentais, enfraquecidas, buscam enfrentar os desafios atuais mais com narrativas do que com respostas corajosas e eficientes.