OPINIÃO

A querência Passo Fundo

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Quem deseja mencionar o apreço a um lugar de sua vida, certamente visualizará o imaginário lúdico e as reminiscências de um cenário real feliz. Ao celebrarmos os 165 anos de Passo Fundo, é perceptível o testemunho da geração mais que septuagenária que ainda habita este chão de sol, vento, frio, calor, águas abundantes, campos, matas, criação de gado, flores, frutas, ou o verde mar extasiante dos trigais. E sua gente aqui chegou nos primórdios de uma civilização ocupando o Planalto Médio, às margens do rio Passo Fundo, ainda habitada pelos índios Coroados, Charruas ou Guaranis. A força de muitas raças, negros e brancos, singrou caminhos entre as matas cobertas por pinhais, selvas de árvores frondosas, e planuras descampadas. Há muito a ser narrado sobre a disputa do espaço geográfico com os nativos. Depois vieram as revoluções sangrentas com violência campal e as mortes, como a Batalha do Pulador. Paulo Monteiro faz referências em suas obras aos episódios sanguinários de nossa história. São muitas as obras que relatam a sucessão dos primeiros anos de instalação do povoado mais que sesquicentenário, hoje nos anais da Academia Passo-Fundense de Letras. Saliento, no entanto a memória própria, de quem chegou à cidade na década de cinquenta, vindo de um lugarejo como Santa Cecília, que pertencia ao extenso município de Passo Fundo da época. E é mirando a passagem da infância que reconstruímos a lembrança desta terra já centenária. Era o ano de 1957, na administração de Wolmar Salton. O município já se fazia pujante por sua produção e escoamento da agricultura e pecuária. O principal meio de transporte era ferroviário, na antiga estação, hoje a Gare. O transporte rodoviário iniciava expressivo surto por estradas primárias sem pavimentação. A celebração do centenário foi momento de incentivos aos setores de desenvolvimento. Nos canteiros da Avenida Brasil o espetáculo que encheu os olhos da criançada, com a simbólica colheita do trigo. Na praça Tamandaré, o chafariz luminoso e o lago com peixes coloridos despertavam a atenção dos infantes. Nos quadrantes da praça, lixeiras de metal com a inscrição “povo culto cidade limpa” traduziam a ideia de otimismo por uma cidade de paz. A obra de Ivaldino Tasca, Crônica Sobre uma Querência Hospitaleira (2010), aborda dados e contos sobre o período em que foi desbravado em nosso chão, momentos rudes e de construção com o trabalho. A diversidade de matizes no desenvolvimento suscitou a marca de cidade hospitaleira. Ivaldino cita o historiador de Passo Fundo, Francisco Antonino Xavier e Oliveira para evidenciar marca ostentada ao longo dos tempos, de cidade hospitaleira. Hoje, uma cidade de porte médio, com exuberante estrutura de saúde, ensino, água, energia, meio ambiente, transporte, comunicação e segurança, pode-se dizer um lugar bom para viver. Sua riqueza natural privilegia um cenário majestoso, com acreditada força de trabalho.

 

Vigília democrática

A mobilização nacional das “Diretas, já” volta a ser invocada no resguardo da democracia. As ameaças protagonizadas por um governo de inconsequente rumo autocrático já demonstrou desdém pela sagrada conquista popular de respaldo nas urnas eleitorais. A insistência do bolsonarismo na depreciação da Justiça Eleitoral é provocação perigosa, sim! A manipulação do poder afronta a harmonia entre poderes. Não é por acaso que a preocupação com as eleições deste ano tem movido os Estados Unidos a emitir recados de alerta em relação aos renitentes devaneios no Brasil. É o simulacro do trumpismo. O dever de respeito às instituições em Washington não foi cumprido pelo ex-presidente Donald Trump. As referências democráticas de importantes nações do mundo por certo não criam anjos da política. Os postulados históricos da constituição republicana, no entanto, sustentam a sobrevivência da ordem natural. Na verdade, nem a direita ou a esquerda na sua formação cívica consequente apoiariam o golpe pretendido. A expansão da fome e todas as adversidades que chocam a sociedade brasileira fragilizam o discernimento, mas não autorizam abrir mão da esperança no princípio democrático.

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