OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Na já conturbada conjuntura internacional de uma guerra, no contexto europeu e das tensões entre EUA e China, que se acumulam em ritmo frenético, a opção da política externa americana foi a de enviar Nancy Pelosi em uma missão arriscada justamente em Taiwan. A ilha é o epicentro de uma escalada de tensões com a China, que em seu delírio expansionista, reclama ela como sua. Taiwan é uma importante economia no contexto global, uma democracia com sufrágio universal e um dos maiores fornecedores de microchips às cadeias produtivas, globalmente. O Partido Comunista Chinês não consegue compreender essa lógica de uma sociedade aberta. Assim como Putin, a China pretende projetar o seu poderio no sentido de uma anexação ilegal de Taiwan, como a história já provou possível com a Crimeia, engolfada por Putin em 2014, sem qualquer reação mais severa do mundo ocidental. A visita de Pelosi à ilha serviu para reforçar a narrativa expansionista chinesa, deixando Taiwan em risco, uma vez que a China começa a organizar um grande exercício militar no perímetro da ilha. Ela já está cercada pelos mais modernos equipamentos militares de uma China com intenções de projeção internacional com um dos maiores exércitos do mundo, superando o americano, inclusive a Marinha de guerra – que possui objetivos em águas internacionais. O “efeito Pelosi” é mais um dos desastres de Biden. Lidar com a China não é como em uma partida de xadrez, como alertava sabiamente Henry Kissinger. Enquanto Biden procura um xeque-mate, Beijing vai colocando as suas peças circundantes, aos poucos – justamente o que está fazendo agora com Taiwan. O efeito Pelosi será sentido nos próximos dias e meses, a começar pelos “exercícios militares” chineses, mesmo argumento de Putin antes de atacar injustamente a Ucrânia. Ainda é incerto como será a relação entre os EUA e a China no futuro próximo, todavia o recado de Pelosi, a mando de Biden, foi o de estar ao lado das democracias, como Taiwan – uma vez que Biden iniciou a sua cruzada contra as autocracias, articulando uma política externa consideravelmente arriscada. Em retaliação, além dos exercícios militares que se avizinham, a China impôs uma série de medidas restritivas contra alguns produtos exportados por Taiwan e cessou o envio de areia à ilha, para prejudicar a indústria da construção, que precisa do insumo para fazer o cimento. Tudo isso ao mesmo modo das sanções ocidentais à Rússia, como se Taiwan fosse realmente o agressor nessa conjuntura. Quando os comunistas ganharam a guerra civil contra os nacionalistas do Kuomintang, esses últimos buscaram o seu exílio em Taiwan e lá formaram um país pujante, fundando a República Chinesa, pela liderança de Chiang Kai-shek. Enquanto tentavam formar um país livre, os comunistas chineses nunca perderam as suas intenções expansionistas, que agora se consolidam com um importante exército. As próximas semanas serão decisivas para determinar o real “efeito Pelosi”. A China conduzirá as suas manobras militares no perímetro da ilha, como nunca, deixando os taiwaneses em uma situação de extremo risco, com a possibilidade iminente de uma invasão (sem repetir os erros de Putin). O contexto marítimo terá um desfecho importante nos próximos dias, em uma região de grande fluxo comercial. Inaugura-se mais um desastre de Biden, em meio a uma geopolítica intrincada e complexa.

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