OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Como antecipamos na coluna da semana passada, a China iria intensificar os seus exercícios militares no entorno de Taiwan. As demonstrações serviram para expor a capacidade militar chinesa em uma possível anexação. Assim, resta perceptível o que Beijing poderia fazer: cercar completamente a ilha. A narrativa chinesa começa a passar por uma mudança significativa em relação a Taiwan. Nas últimas décadas ela tem sido “uma China e dois governos” e, até então, vislumbrava uma “reunificação pacífica”, com eventual disposição em respeitar o governo da ilha. Todavia, a promessa parece ter sido quebrada. Recentemente, foi lançado um “Livro Branco” em relação a Taiwan. Nesses “livros”, Beijing declara as suas pretensões militares, como um guia para as próximas ações na área da defesa. O novo documento oficial restringe ainda mais a “autonomia relativa” de Taiwan, sugerindo que em uma possível reunificação, a China poderá enviar tropas militares a Taiwan, o que muda significativamente a narrativa. O Livro Branco lançado há pouco tempo é uma reação à visita de Pelosi e vem na sequência dos últimos exercícios militares no perímetro da ilha. A escalada de tensões é provável, uma vez que os exercícios foram contundentes, inclusive com mísseis balísticos cruzando por Taiwan. A ilha rejeita por completo as pretensões chinesas da “reunificação” e, nessa seara, fica praticamente isolada.

 

Mundo ocidental 

A grande maioria dos países que compõem as Nações Unidas reconhece o princípio de “uma só China”, que acaba englobando Taiwan. A maior parte dos países ocidentais não mantêm relações diplomáticas oficiais com a ilha, se não, apenas relações comerciais, com escritórios de representação que emulam repartições diplomáticas. Dessa forma, as potências ocidentais acabam reconhecendo o princípio de “uma só China”, sedimentado a partir de resoluções da ONU. O sinal contrário veio com a visita de Pelosi a Taiwan, que colocou em dúvida o princípio, mudando também a narrativa dos EUA sobre a tensa conjuntura.

 

Estratégia circundante e gradual 

Os exercícios militares demonstraram a estratégia chinesa, circundante e gradual. Circundante, pois, Beijing vai colocando as suas peças no tabuleiro geopolítico no sentido de cercar os seus adversários. Gradual, porque todas as ações são refletidas. Primeiro os exercícios, depois as narrativas decorrentes, tudo calculado e orquestrado, diferente, por exemplo, da invasão russa na Ucrânia. Putin tem muito a aprender com os chineses.

                                            

Estreito de Taiwan 

Entre a China e a ilha se enuncia o Estreito de Taiwan. Só neste ano, já passaram por lá cerca de 88% das maiores embarcações comerciais do mundo, pois, trata-se de uma zona de grande fluxo de produtos, escoados da Ásia à Europa e ao Oriente Médio. Um abalo no delicado estreito não seria vantajoso, tanto à China quanto às potências ocidentais. O impacto nas cadeias produtivas seria significativo, ainda mais por eventuais conflitos entre a marinha chinesa e as frotas ocidentais presentes na região. No Mar do Sul da China há uma tensão importante entre elas. O referido mar é também outro desejo da expansão chinesa, que reclama a totalidade dele, em desrespeito aos países ribeirinhos, que possuem as suas porções relativas.

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