OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Há um ano ocorria a retirada das tropas americanas do Afeganistão. Como vimos, na época, a forma com que o governo Biden lidou com a situação foi mais um dos desastres de sua política externa. Uma retirada impensada e arriscada. A tomada de poder por parte do talibã pegou de surpresa as potências ocidentais e, por mais que a inteligência apontasse o iminente risco, Biden preferiu adotar uma postura unilateral. Alertamos na ocasião que retirar-se de um conflito é muito mais complexo do que entrar em um. Também dissemos que uma coisa é tomar o poder e, outra, governar um país. Governar demanda recursos e capacidade de gestão, dois pontos que jogavam contra o grupo terrorista que tomou o poder. A grande questão é que os EUA também perderam o controle na conjuntura afegã. Restaurar um país, após um conflito, talvez seja uma das mais complicadas tarefas nas relações internacionais. Todavia, nada disso justifica a retirada abrupta e, muito menos, o déficit de inteligência na operação. Enquanto isso, Biden afirmava ter o controle da situação perante a mídia. Tudo desmoronou. Mas, afinal, como está a situação neste momento no Afeganistão?

 

Um “talibã 2.0” 

Alguns otimistas esperavam uma reformulação do talibã, em uma versão mais amena e “politicamente correta”. O regime do talibã não passou por qualquer tipo de reforma. Não há constituição. Não há imprensa livre. A religião virou matéria de vingança. Outra coisa que os otimistas esperavam era de que o talibã pudesse se dissociar do terrorismo internacional. Ao contrário, não há qualquer evidência nesse sentido.

 

Finanças e “direitos” 

A economia praticamente colapsou. Isso se soma ao pacote de sanções das potências ocidentais, bem como o congelamento dos ativos do governo que antecede a tomada de poder pelos terroristas. Após a retirada americana, estima-se que o PIB caiu drasticamente, colocando o país na extrema pobreza e na fome. As mulheres nunca foram tão reprimidas. Inúmeras delas estão fora de seus empregos e da escola. Algumas [e corajosas] tentaram protestar e foram espancadas publicamente pelos terroristas. A insurgência tem brotado também pelos islâmicos mais radicais do grupo terrorista ISIS-K, que possuem um braço na região e uma contrariedade com o talibã. Outro grupo que emerge é o dos nacionalistas, que formaram uma espécie de resistência.

 

Reconhecimento 

Quase nenhum país reconhece o governo do talibã, nem mesmo os seus mais antigos aliados. Até países como a China e Uzbequistão foram deixados à margem. A China poderia ser um forte apoiador do regime, principalmente para contrariar a posição ocidental, mas não há evidência clara disso, deixando o talibã isolado. A tentativa de tomar os ativos congelados do governo anterior tem frustrado. A falta de dinheiro e de reconhecimento internacional coloca os terroristas do talibã em uma situação delicada e de isolamento.

 

Conclusão 

A retirada unilateral de Biden foi mais um dos desastres de sua política externa. Retirar-se de uma guerra é muito mais complicado do que entrar em uma. As ramificações internacionais do talibã podem se tornar riscos consideráveis no médio prazo. Enquanto isso, a população sofre com a extrema pobreza e a fome. 

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