A liturgia dominical celebra a solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O dogma foi definido em 01 de novembro de 1950, porém a devoção do povo católico na assunção de Maria, isto é, elevada de corpo e alma ao céu, já vinha de longos séculos. A solenidade liga-se diretamente ao artigo da Profissão de Fé: “creio na ressurreição da carne”. O que aconteceu com Maria antecipa o destino final e a esperança dos que caminham com Cristo para vida eterna.
O evangelista Lucas 1,39-56 registra o alegre encontro de Isabel com Maria. Uma visita marcada pela louvação das maravilhas operadas por Deus na vida daquelas mulheres e na vida do povo. Isabel proclama a primeira bem-aventurança do Evangelho. Dirigindo-se a Maria, diz: “Bem-aventura aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”. Em Maria, como primeira seguidora, são concretizadas as promessas de Deus. A solenidade da Assunção de Maria celebra o cumprimento da promessa da vida eterna. São Paulo, na primeira carta aos Coríntios 15,20-17, ensina: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. (...) Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo”.
O que aconteceu com Maria, portanto é fruto da sua fé. Vale recordar os ensinamentos do Catecismo da Igreja Católico. “Obediência da fé: Obedecer na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que a sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Desta obediência, Abraão é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe e a Virgem Maria, a sua perfeita realização”(144).
“A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel acreditando que “nada é impossível a Deus” (Lc1,17), e dando o seu assentimento: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc1,38). (148). “Durante toda a sua vida, e até à sua última provação, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua fé não vacilou. Maria não cessou de crer “no cumprimento” da Palavra de Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realização mais pura da fé” (149).
A partir do momento que Maria professou a fé nas promessas de Deus sua vida tomou um novo rumo. Uniu-se totalmente a Deus orientando o seu futuro, seu modo de viver e toda a sua existência. A fé não é somente uma adesão teórica, acima de tudo é um modo de viver orientado pela Palavra de Deus que se torna luz para os passos e critério de discernimento dos pensamentos, palavras e ações.
A solenidade da Assunção de Maria valoriza a pessoa inteira – corpo, pensamento, sentimentos, alma, espírito – é o que os textos bíblicos ressaltam. Somente é possível crer e viver como cristão com todas as dimensões que compõem o ser humano. A fé na “ressurreição da carne” ressalta esta totalidade. A valorização da totalidade da pessoa, contrapõe-se à tentação de dividir a pessoa em partes isoladas, exalta a unidade: alma e corpo, espírito e matéria, mundo dos homens e mundo de Deus. Tudo isto deixa de ser antítese para se tornar uma feliz síntese.
O corpo glorificado de Maria certifica e confirma a profissão de fé na “ressurreição dos mortos”. Certamente a valorização do corpo de Maria glorificado deve ser compreendido no contexto do corpo ressuscitado e glorificado de Cristo, por isso é chamado de “primícias”. O exemplo de Maria nos assegura que a criatura pode ser associada ao seu Criador, superando a fragmentação do corpo experimentado no momento da morte para retornar à totalidade na ressurreição.