A Palavra de Deus da liturgia dominical orienta-nos a refletir e rezar a virtude da humildade. (Eclesiástico 3,19-21.30-31, Salmo 67(68), Hebreus 12, 18-19-22-24, Lucas 14, 1.7-14). O Catecismo da Igreja Católica define a virtude como “uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em atos concretos. Confere facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem”.
O que significa a humildade? A palavra humildade evoca sentimentos diversos e contrastantes. Pode ser sinônimo de servilismo, incapacidade, baixeza, incompetência. Também significa uma virtude nobre e sábia. Os textos bíblicos citados orientam a compreensão cristã de humildade. O livro de Eclesiástico olha a vida humana sob a ótica da sabedoria ensinada a partir das Escrituras e recomenda vivamente. “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor”. Os ensinamentos tem por denominador o “amor pela humildade”. O texto inicia com apelativo “filho” que na linguagem sapiencial cria uma relação de familiaridade. A pessoa que possui a sabedoria pode transmiti-la à pessoa que deseja acolhê-la.
No Evangelho Lucas encontramos Jesus como um peregrino e um hóspede. Todas os lugares que visita e é acolhido se tornam oportunidade e vitrine para o seu magistério. No texto de hoje, o lugar é a refeição na casa do chefe dos fariseus. Os fariseus, diversas vezes, foram os críticos mais contundentes das palavras e das ações de Jesus. Mesmo assim, ele não faz dificuldade para aceitar convites, porque é livre e aberto ao diálogo, não se rege por preconceitos e nem se fecha diante dos conflitos anteriores. Mesmo naquela refeição, “eles o observavam”. Mas também Jesus observa o que acontecia, notando que os convidados disputavam os primeiros lugares. O olhar atento desencadeia o ensinamento sobre a humildade.
A parábola que Jesus conta não pretende ensinar etiqueta, nem falar somente para aquela refeição. Os ensinamentos dele sempre pretendem ter validade eterna e universal. Por isso, se concentra sempre no essencial das coisas e das situações, não se preocupa com as coisas marginais e secundárias. Na parábola acentua que a definição do local onde o convidado ficará sentado é da responsabilidade de quem convidou e não de quem foi convidado. Quem convidou julga a importância do convidado e fá-lo sentar-se no lugar adequado. Inicialmente a parábola passa a impressão de não ter ligação com Deus, mas a conclusão dela aponta claramente que quem avalia é Deus. “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”. Não cita explicitamente Deus, porém poder-se-ia ler: “Deus o exaltará”, “Deus o humilhará”.
O que significa humildade? Na compreensão cristã é preciso ir ao encontro de Cristo e ver como viveu e explicou a humildade. Ela tem a haver com Deus como causa exemplar e origem. Deus é aquele que em Cristo presta tanta atenção ao homem, ao ponto de estar disposto a dar tudo. Jesus está pronto a morrer por todos os homens. Humildade tornar-se assim uma virtude divina antes de ser humana. Por isso Jesus pode dizer: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
Humildade é, antes de tudo, o reconhecimento da grandeza de Deus e a necessidade de relacionar-se sempre com ele. Daí deriva o justo modo de relacionar-se com os outros, sem servil submissão em relação aos poderosos, nem orgulhosa superioridade em direção aos mais simples. Humildade é atenção a todos, disponibilidade ao serviço. Humildade é o justo conhecimento de si para ocupar exatamente o próprio lugar na história oferecendo o próprio contributo para o desenvolvimento do homem.