OPINIÃO

Quando morre um poeta

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Imagino, parafraseando os versos do poeta Manuel Bandeira, Luis Lopes de Souza (1968-2022), no seu jeito peculiar de ser, dando “oh! de casa” no rancho do céu: - Licença, meu Patrão! E São Pedro bonachão: - Entra, Luis. Você não precisa pedir licença. Sim, seja qual for o significado de céu para quem está iniciando a leitura dessa coluna, poetas como Luis Lopes de Souza, que prematuramente nos deixou no dia 21 de agosto de 2022, têm lugar assegurado no paraíso das boas almas.

Quando morre um poeta, como escreveu o próprio Luis Lopes de Souza, “As musas, chegam silentes... Param mórbidas no esquife... Mas e agora? Quem cantará de alma pura... E quem vai chorar por elas... Elas mereciam mais... O poeta é transcendente, mas se apaga na história, e as musas são os anjos que eternizam, sua memória!”. Ledo engano, Luis! Você, POETA, não se apagou na história. Apesar do seu, hoje clássico e premiado “Adeus ao velho poeta”, como você frisou “...resta o silêncio gelado do velho e ousado poeta”, as musas que sosseguem. O teu canto não vai calar. A tua luz e alegria não vão morrer. É com essa certeza que, mais uma vez, recorro a Manuel Bandeira e aos versos que ele escreveu quando da morte de Mário de Andrade, para insistir que: “Você não morreu, apenas ausentou-se. A vida é uma só. A sua continua na vida que você viveu”.

Luis Lopes de Souza (15/09/1968 – 21/08/2022), poeta e advogado, é natural de Laranjeiras, distrito de Marau. Autor de quatro livros: Retorno (1989); Prece (1995); Do canto rude dos loucos (2015); e No sarau dos meus fantasmas (2022). Apesar da temática gauchesca, xucra ou crioula, que é comum a todos os seus poemas, percebe-se que há notória ascensão do poeta e de sua sensibilidade, que andaram, “pari passu, com a evolução do ser humano, a cada nova obra.

Os poemas de Luis Lopes de Souza podem ser encontrados publicados em livros, próprios e antologias, e gravados em discos. É poeta premiado em festivais e em rodeios: bicampeão do Concurso de Poesias Inéditas do Rodeio Internacional de Vacaria. Além de ser avaliador dos principais festivais de poesia gauchesca do Rio Grande do Sul. E integrar a Estância da Poesia Crioula de Porto Alegre e ser membro da Academia Passo-Fundense de Letras.

Deleitem-se com os versos de Luís Lopes de Souza. Dos poemas, No sarau dos meus fantasmas, que dá título ao livro de 2022: “Voltei da boca do inferno / já nem sei se sou humano...!” (...); de Prólogo dos versos que ainda não fiz: “"Me gusta" de um verso livre... / Velhas primícias prosaicas / desprovidas de resumo” (...); de Casmurro: “Hoje a inquietude me perturba / numa ressaca de incertezas e medo...”; de Maria... A louca: “Todo o pago conhecia, / a louca, chamavam.../ mas seu nome, qual seria?” (...); e, confessadamente, os preferidos do poeta, de, Nos tempos em que eu escrevia: “Nos tempos em que eu escrevia.../ Meus versos cruzavam raros / por entre réstias e sombras / de um povoado imaginário.../ os lampiões esmaecidos / escondiam os gemidos / entre o mutismo e o medo, / se apagando nos segredos / dos romances proibidos…” (...).

Os poemas de Luis Lopes de Souza são para serem lidos e, acima de tudo, ouvidos. As reticências milimetricamente projetadas dão o ritmo das pausas ao declamador. Um POETA, cujos versos gauchescos que escreveu, seguindo a magistral ironia de Jorge Luis Borges, diferente do que sói acontecer, NÃO nos deixam com a sensação de termos lido livros escritos por astrônomos que nunca olharam para as estrelas.

É possível que naquele fatídico final de semana, 21 de agosto de 2022, em Bagé, antes de sair de cena para repousar, Luis Lopes de Souza, rememorando versos de Apparicio Silva Rillo, até tivesse segredado para si mesmo, “hoje é um dia bom pra se morrer...”. E é pena, Luis, que, tal qual o personagem dos versos de Rillo, você não tivesse refletido “hoje é um dia bom pra se morrer, mas não é o dia ideal...”, e voltado para receber os aplausos dos pares que o aguardavam.

Nossos respeitos a Odir Lopes de Souza (pai, in memoriam), Maria Almeida de Souza (mãe), José Ironi, Dirceu, Margarte, Lorizete e Marinês (irmãos), Carolina (filha) e Miriam (esposa). Sintam-se orgulhosos desse POETA!

Requiescat in Pace POETA Luis Lopes de Souza!


PROMOÇÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon.

Quem adquirir a versão Kindle, querendo, GANHARÁ UM EXEMPLAR DO LIVRO IMPRESSO SEM QUALQUER CUSTO (apenas a despesa postal para os de fora de Passo Fundo). Promoção limitada a 500 exemplares.

Gostou? Compartilhe