OPINIÃO

Pródigos

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A Palavra de Deus da liturgia dominical propõe a conhecida “Parábola do filho pródigo”, do capítulo 15, de São Lucas. Uma parábola repleta de sabedoria que introduz no coração de Deus misericordioso e na grandeza e nas limitações dos seres humanos. Os três personagens, o pai e os dois filhos, podem ser adjetivados como pródigos. Ensina-nos o dicionário que pródigo é quem despende com excesso, esbanjador; que dá, distribui, faz ou emprega profusamente e sem dificuldade. 

O primeiro personagem é o filho mais novo. “Pai dá-me a parte da herança que me cabe”. Com o pedido aceito, parte “para um lugar distante” e “esbanjou tudo numa vida desenfreada”. A escolha foi se distanciar dos laços familiares, do lugar de origem, da rotina de compromissos e trabalho. Seu plano era simplesmente gozar a vida. “Não quer estar submetido a mais nenhum mandamento, a mais nenhuma autoridade; ele procura a radical liberdade; quer apenas viver para si mesmo; sente-se totalmente autônomo” (Bento XVI, Jesus de Nazaré). Esta escolha de vida, aos pouco, se revela problemática e decadência chega ao ponto que “deseja matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam”.

Se o filho mais novo é pródigo “na vida desenfreada”, também é pródigo no reconhecimento do seu pecado, das escolhas mal feitas. “Vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho”. Toma o caminho de volta mesmo não sabendo se seria recebido ou perdoado, mas arrisca pois suas opções e decisões não lhe davam mais nenhum direito de voltar para casa. 

O segundo personagem pródigo é o pai. Dá a herança que o filho pede, mesmo não tendo o dever de fazê-lo. Quando o filho volta enche-se de compaixão, corre ao seu encontro. Ele ouve a confissão do filho e vê o caminho interior que o filho percorreu. Por isso, o pai não o deixa acabar de falar, abraça-o e beija-o e manda preparar uma grande festa. O motivo disto tudo é “porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado”.

Fica evidente que o pai da parábola é Deus, somente ele é pródigo nesta medida. “É porque Deus é Deus, o santo, Ele age assim, como nenhum homem poderia agir. Deus tem um coração, e este coração, volta-se, por assim dizer, contra Ele mesmo. (...) O coração de Deus transforma a ira e muda o castigo em perdão” (Bento XVI, Jesus de Nazaré).

O terceiro personagem, o filho mais velho, quando soube da volta do irmão e da festa preparada pelo pai, manifesta que é pródigo na raiva, na emissão de juízo condenatório sobre o que irmão sem antes escutá-lo, em se considerar perfeito. “Jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos”. A sua reação é similar a uma oração de outra parábola de Lucas 18,12: “Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este publicano”.  

A sabedoria das parábolas de Jesus permitem que elas nunca percam a atualidade. Como também, o leitor sempre é envolvido, sempre é o seu destinatário. A figura do filho perdido é descrita com muita clareza, como também seu destino, tanto no bem como no mal. Ele se torna exemplar para peregrinarmos, com humildade e sinceridade, em nosso interior para percebermos em quais aspectos somos “pródigos”.

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