Toma destaque o encontro entre Vladimir Putin e Xi Jinping, no que pode ser um “teste” da anunciada parceria “sem limites” divulgada nos jogos de inverno de Pequim, antes mesmo da guerra russa contra a Ucrânia. O encontro reúne líderes dos países que configuram o espaço euroasiático, também conhecido como Shanghai Cooperation Organisation (SCO), que ocorre no Uzbequistão. Trata-se de evento importante, pois, congrega os países que visam estabelecer a sua influência em área vital, o espaço euroasiático, ou como já abordamos aqui, o “heartland” – zona estratégica que se estende da Europa à Ásia, com grande extensão territorial e palco do processo de expansão chinês e da tentativa de anexações por parte de Putin. O encontro é anual e envolve temas como a política regional, economia e segurança. Ele acontece em momento de uma China fortalecida em seu projeto expansionista, de um lado, e de uma Rússia enfraquecida pela recente perda significativa de territórios estratégicos no sul da Ucrânia, do outro. Xi Jinping também visitará o Cazaquistão e o encontro trata-se de sua primeira viagem internacional desde a pandemia, ou seja, carrega um forte simbolismo em uma conjuntura delicada no entorno estratégico. A China tem sido um dos principais compradores das commodities russas, em meio às sanções ocidentais. Beijing tem testado uma postura para lidar com a conjuntura russa: ao mesmo tempo em que anuncia uma parceria sem limites e dá suporte relativo à Rússia, acredita que apoiar claramente a invasão de Putin não seja estratégico.
Ásia Central
A ocasião do encontro não se limita apenas à discussão bilateral entre Moscou e Beijing, mas em sentido maior, da influência chinesa perante os seus vizinhos da Ásia Central, tidos como relevantes em seu projeto expansionista de poder e influência, conhecido como o “Cinturão e a Rota”. Esses países estão preocupados com a condução de Putin em relação à Ucrânia e de forma relativa se afastam de Moscou, como o Cazaquistão.
O dilema de Xi
O dilema de Xi Jinping é triplo. Em primeiro, ele tende a ganhar na aposta que faz na parceria estratégica com a Rússia, pois, se beneficia de recursos estratégicos e commodities, mas não pode se inclinar a Moscou apenas motivado por esses pontos, pois, seria um erro estratégico. Em segundo, se ele apoiar Moscou em absoluto, poderá criar uma situação desconfortável com os países vizinhos da Ásia Central, estratégicos para o seu projeto de expansão. Em terceiro, apoiar a Rússia em momento que ela sofre duras perdas no campo de batalha com a Ucrânia, danificaria a sua imagem em termos relativos. Por isso, o mais provável é que Beijing mantenha uma política de “ambiguidade estratégica” em relação à Rússia. Por um lado, a China mantém o seu apoio diplomático ao Putin, contrariando o polo de poder advindo de Washington. Por outro, lidará com cuidado para que as sanções ocidentais não surtam efeito em Beijing e que a guerra russa contra a Ucrânia não prejudique a sua relação com os países da Ásia Central. Em síntese, a China possui muito mais poder e influência que a Rússia, bem como os seus interesses próprios. Isso leva Beijing a apoiar a Rússia em termos estratégicos, mas não táticos.