OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Desde o início da guerra russa contra a Ucrânia, as armas nucleares têm sido uma peça-chave nas narrativas de Putin. Ao adotar tais narrativas, Moscou acabou com todos os protocolos e institutos jurídicos internacionais sobre a utilização de armas nucleares. A primeira vez em que surgiu a discussão foi justamente quando a estratégia de Putin falhou, na invasão da Ucrânia, não conseguindo fincar bandeiras na capital do país, Kiev. No primeiro desespero coube a Putin trazer a ameaça dos armamentos nucleares. Eis que surge um segundo desespero. As últimas investidas do exército ucraniano no leste do país obrigaram a retirada de tropas russas, em um importante avanço no campo de batalha por parte de Kiev. O avanço minou parte do apoio popular de Putin, como sinal de fraqueza militar e estratégica. Além disso, colocou a sua parceira “sem limites”, a China, em posição delicada. Nessa conjuntura restou ao líder russo trazer, mais uma vez, a narrativa das armas nucleares. Em recente discurso, Putin afirma que não estaria blefando quando fala em usá-las. Inclusive inverteu, como determina a sua mentalidade soviética, a narrativa, na medida em que afirma que Moscou é quem tem recebido ameaças nucleares das potências ocidentais! Após o anúncio, protestos começaram a surgir na Rússia, de nativos contrários à guerra. Na fronteira do país com a Finlândia, uma fila de mais de 10km de automóveis se acumulava e já havia procura massiva de voos para fora do país. Putin vai convocar mais de 300 mil reservistas e isso, claramente, preocupou parte da população, que nunca pegou em armas. A convocação é simbólica, mas em termos práticos, não significa uma mudança importante no campo de batalha. Seriam necessários alguns meses para se treinar todo esse contingente, bem como prover todo o apoio logístico-militar necessário, além de pesados investimentos. O anúncio é um indicativo de que a guerra russa contra a Ucrânia estaria muito longe de um desfecho.

 

Reações 

As reações das potências ocidentais vieram em seguida, na ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas, que transcorreu em Nova York. Biden fez um duro discurso contra a posição de Putin, clamando para um reforço ainda maior nas sanções econômicas à Rússia e no rechaço completo à narrativa das armas nucleares. A China também não demonstrou apoio absoluto a Moscou, colocando a parceria “sem limites” em dúvida. Apoiar a Rússia, nesse momento, seria desfavorável ao pragmatismo chinês, ainda mais ao passo em que Putin sofreu duras perdas no campo de batalha. Os líderes alemão e francês condenaram as palavras de Putin, acusando-o de tomar uma postura imperialista. Os cenários que se desenham daqui para frente são incertos. De um lado, não se sabe o quão efetivo será, por parte de Putin, convocar os reservistas. Do outro, a narrativa das armas nucleares é uma ameaça importante e certamente demanda uma resposta assertiva por parte das lideranças internacionais. Talvez a narrativa sirva ao desespero russo, com a perda no campo de batalha e o risco da popularidade de Putin cair, uma vez que os protestos se somam e há um grande número de pessoas tentando deixar o país, com o medo de serem chamadas para uma guerra não justificada. 

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