Joaquim de Sampaio Ferraz (1882-1966), o nome que revolucionou a meteorologia brasileira, ao dar início, em 1915, à elaboração das primeiras cartas sinóticas e previsões do tempo para o Rio de Janeiro, lapidou, com esmero de ourives, nas mais de seis mil páginas do diário que escreveu ao longo de 66 anos (1900 a 1966), a imagem pessoal que gostaria de ver perpetuada na história. Imagem essa, que veio à luz, fora do ambiente familiar, por obra e graça da sua neta, a professora e museóloga Solange de Sampaio Godoy.
Solange de Sampaio Godoy, para a elaboração da dissertação de mestrado, que defendeu pela PUC-Rio, em 2005, e, posteriormente, compilou no livro O Avô do Tempo – Diário de um Meteorologista (edição da autora, Rio de Janeiro, 2009, 156 p.), valeu-se dos 28 volumes (originalmente, pela numeração, eram 32) que restaram dos manuscritos (caneta tinteiro, azul ou preta, e grifos com lápis vermelho) de Joaquim de Sampaio Ferraz, diligentemente preservados pela filha Haydée Marcondes Godoy, mãe de Solange.
Sampaio Ferraz, fruto de um casamento malsucedido entre uma mãe rica (que, para a sua decepção, quando da morte dela, em 1951, tomou conhecimento que havia sido deserdado em testamento de 1935) e um pai com certa projeção social (advogado e político), estudou, em regime de internato, em escolas brasileiras (Colégio Universitário Fluminense, no Rio de Janeiro, e no Ginásio Mineiro, em Barbacena) e inglesa (no Saint Edmund’s College, em Hertfordshire). Na Inglaterra, formou-se em engenharia civil pelo Merchant Venturer’s Technical College, de Bristol, em 1900. Foi para os EUA, e, entre 1901 e 1903, aperfeiçoou-se em eletricidade industrial na Western Electric Company, em Chicago. De volta ao Brasil, trabalhou como engenheiro auxiliar nas obras do porto da cidade do Rio de Janeiro (1904-1907) e nas obras do porto de Belém do Pará (1907-1908). Casou-se em 1905, com Maria Luiza Guimarães, constituindo uma família de 7 filhos (uma das filhas faleceu aos 2 anos de idade).
Em 1909, por influências familiares (pai e sogro), Sampaio Ferraz ingressou no Observatório Nacional, órgão que, na época, passou a ser vinculado à recém-criada Diretoria de Meteorologia e Astronomia, junto ao Ministério da Agricultura. De 1913 a 1914, realizou estágios nos grandes centros meteorológicos europeus (França, Bélgica e Inglaterra). Nesses institutos conheceu o que havia de mais moderno e avançado na época. Também acompanhou, neste período, o trabalho de impressão de suas Instruções Meteorológicas, em dois volumes, com textos e tabelas, que foram adotadas, pela Diretoria de Meteorologia e Astronomia, para orientar os observadores do serviço meteorológico brasileiro.
Em 1921, assumiu a direção do novo Instituto de Meteorologia (separado da Astronomia). Aprimorou o serviço meteorológico brasileiro e estabeleceu intercâmbio com vários países do mundo. Mas, desiludido com o serviço público e sem perspectivas, aposentou-se, precocemente, em 1931. Trabalhou como consultor meteorológico das companhias do grupo Light, de 1936 a 1962, e como consultor técnico de climatologia dos Conselhos Nacionais de Geografia e Estatística, de 1938 em diante.
O escritos e arquivos de Sampaio Ferraz foram fundamentais para a construção da memória do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). A meteorologia brasileira distinguiu-o, dando o seu nome ao Prêmio Nacional de Meteorologia, outorgado, pela primeira vez, em 1982, e, por ocasião do centenário do INMET, em 2009, o auditório do instituto também recebeu o seu nome.
Ao longo da vida, Sampaio Ferraz acumulou depressões, angústias e frustrações, muitas delas tratadas no seu diário, não raro de forma velada, pela denominação de “o grande mal”. Nos escritos deixados, como autor/editor de si mesmo, revelou o retrato do cotidiano de uma família numerosa, de classe média, lutando com falta de recursos (nunca teve automóvel e nem casa própria), doenças, casamentos, separações, etc., denotando, claramente, a dependência de todos da família à sua vontade, aos seus interesses profissionais e conveniências.
Morreu no Rio de Janeiro, em novembro de 1966, aos 84 anos de idade.
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