O tema central da liturgia dominical é a oração (Êxodo 17,8-13; Salmo 120/121; 2Timóteo 3,13-4,2 e Lucas 18, 1-8). “Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. A parábola envolve os dois interlocutores que fazem parte da oração: a pessoa e Deus, o aspecto antropológico e o teológico.
Jesus ensina que a oração é uma necessidade. A nossa vida se desenvolve entre coisas necessárias, essenciais e outras supérfluas e secundárias. Afirmar que a oração é necessária é remar contra a correnteza. O senso comum e o pragmatismo afirmam que é preciso agir. É necessário fazer as coisas que estão ao alcance do poder humano. Semelhante tentação impregna todos os ambientes, inclusive os ambientes internos da Igreja.
Jesus também ensina a “rezar sempre”. A parábola apresenta como modelo de oração perseverante uma viúva. As viúvas faziam parte do grupo dos mais vulneráveis com os órfãos e estrangeiros. Ela recorre ao juiz para que faça justiça. O juiz é descrito como alguém “que não temia a Deus, e não respeitava homem algum”. A possibilidade de ser feita a justiça se apresenta remota, quase impossível. Porém, a viúva é perseverante na sua busca. Ela crê no valor da justiça e em quem a administra. Mesmo que o processo não ande, a viúva vive na secreta esperança de ter sucesso. Portanto, a qualidade fundamental da viúva é a sua constância em não se acomodar diante do silêncio, da indiferença e da petulância do juiz. Persiste até que seja feita justiça pela autoridade competente.
A exemplaridade da viúva está na sua constância e fé. A atitude dela poderia ser resumida em resistir e crer. Toda parábola nasce de situações humanas bem conhecidas para introduzir em temas do Reino de Deus. A atual parábola trata da oração, não está em pauta a reflexão sobre as virtudes humanas como a insistência, mas a fé. Ela ajuda a entender que a oração insistente é aquela evita a pressa, a impaciência e o desencorajamento. A oração cristã é dotada de uma dupla insistência: em crer sem desistir e em crer na sua realização.
A segunda parte da parábola ressalta a dimensão teológica da oração revelando o modo como Deus se relacionado com o orante. O juiz com o qual a viúva se relaciona se auto define como “não temo a Deus, e não respeito homem algum” se torna o contraponto para falar de Deus a quem o orante se dirige. Na parábola Deus é descrito como alguém que fará justiça aos que clamam a Ele e a fará depressa.
Portanto, a parábola que ensina a necessidade de rezar sempre, também acentua a certeza que a oração será ouvida porque revela o modo de agir de Deus. Quem reza sempre fica inquieto com o tempo, com a demora do atendimento dos seus pedidos. Tem-se a percepção que Deus demora muito para responder. Quer-se estabelecer prazos para que a oração seja atendida. São inquietações que podem conduzir a pessoa a desistir de Deus. Ao encontro destas incertezas humanas vem esta parábola.
A insistência se une profundamente à certeza que a oração será ouvida, mas também revela que os tempos e os parâmetros de Deus não correspondem aos nossos. Se da parte de Deus parece ter demoras, revela que a sua paciência deixa espaço para a oração confiante, à conversão e à salvação. Da perseverança se passa para a fé e ao amor. Não se cansar de rezar significa também não duvidar da força da oração e não duvidar do amor de Deus.
“Rezar consiste em bater à porta de Deus e invocá-lo com insistente e devoto ardor do coração” (Santo Agostinho).