Hipocrisias democráticas
Que eleições! É a campanha eleitoral que vai além do imaginário, dribla o inusitado e dá um nó no inimaginável. Até desconfio que Nelson Rodrigues nos reenviou o Sobrenatural de Almeida que, em meio a tantos outros fantasmas, passa despercebido. Se antigamente a demagogia demandava em uso de óleo de peroba, a demagogice de hoje tem o brilho da hipocrisia. O pior de tudo isso é que utilizam a democracia como uma escora ou um escudo. Democracia da boca para fora, que fique bem claro, pois o controverso há muito já ficou no esquecimento. Por força de radicalismos, nos últimos tempos a salutar argumentação se foi pelo ralo. Sem discernimento ou o mínimo de embasamento, escutamos que ‘isso pode ou aquilo não pode’. E em tom autoritário e incontestável! Não adianta usar a democracia como argumento e agir de forma antidemocrática.
Ou, ainda, clamar por democracia com a cabeça carregada de pensamentos autoritários ou arbitrários. Isso é o mesmo que pregar moral de cuecas. Em meio a esse fervor escaldante e ameaçador, é necessário olhar de longe, com o pensamento descompromissado e, portanto, mais crítico para observar a conduta das pessoas em tempos de eleições. Logo surgem questionamentos como por que Maria vai com as outras? Ora, porque Maria não encontrou um caminho melhor, não parou para pensar ou os seus neurônios passam por uma crise de personalidade. Maria, não importa o lado, é caricata personagem que faz parte deste inusitado momento, pois é arrastada e nem sabe por onde anda. O nível desta campanha é uma decepção, mas não pode arranhar a democracia. O voto é uma escolha preferencial, enquanto a eleição é uma celebração da democracia. E nesse processo não há espaço para hipocrisias.
Dedos em campanha
Dos velhos comícios às redes sociais, a campanha política evoluiu muito. Mas apenas em termos de tecnologia, pois na apresentação de propostas retrocedeu bastante. Saímos dos dedos em riste dos discursos inflamados para os dedos repassadores de mentiras. Entre os tempos dos candidatos nas sacadas e das mensagens de hoje, houve um meio caminho com a propaganda no rádio e na televisão. De ontem para hoje, falta calor humano e sobram mentiras. Nos últimos dias, o fluxo de mensagens no Zapp está congestionado. Alguns grupos estão entupidos com mensagens. Porém, nas redes sociais não faltam os cativos e sistemáticos repassadores de fakes e absurdos. E não se cansam de postar. Contei de apenas um amigo 89 mensagens em 24 horas. Todas de cunho político e em sua maioria fake news. Zerei as mensagens e, em nova contagem, foram 25 em menos de seis horas. É interessante destacar que o cara não é político e nem trabalha com marketing político. Ele está entre aqueles que fazem isso mecanicamente e em volume proporcionalmente multiplicado pela proximidade com o dia da eleição. Clicam tanto que já devem sofrer de LER - lesão por esforço repetitivo - nos dedos.
Estranhezas
Eleições, Copa do Mundo, fuzil, granada e um padre. Um estranhíssimo repertório que 2022 nos apresenta.
Terraplenagem
Se foi com base na Terra plana que surgiu o plano do padre, aplainaram pensamentos para terraplenar a lógica.
Propaganda
Nunca havia observado tanta propaganda política pelas ruas como nas últimas horas. É um material visual com um custo considerável. Direta ou indiretamente, quem irá pagar essa conta?
Números
A numerologia é ciência mística sem perder a lógica. Quem vencerá a eleição presidencial? Como os números não mentem, tenho certeza de que a soma do número de urna do candidato vencedor será igual a quatro. Podem apostar!
Barulho
O final da campanha política também será um alívio para os meus olhos e ouvidos. Os canteiros ficarão livres para enxergar as árvores e não teremos mais os insuportáveis alto-falantes. Então, na semana que vem, espero que outros incômodos alto-falantes também sejam suprimidos de nosso meio. Limpeza visual e sonora representa qualidade de vida.
Trilha sonora
Diana Krall - The Look Of Love
