OPINIÃO

Um encontro maravilhoso

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A movimentação de Jesus, de cidade em cidade, proporciona-lhe encontrar pessoas nas mais variadas situações religiosas, existenciais, sociais e econômicas. Jesus atende tanto a Bartimeu, cego e mendigo, como a Zaqueu, “chefe dos cobradores de impostos e muito rico” (Lucas 19, 1-10). Jesus é um caminhante atento e perspicaz. Vê Zaqueu que havia subido numa árvore, devido a sua baixa estatura, para vê-lo passar. Na verdade os dois se procuram, como se estivessem num jogo de procura de um tesouro. Jesus procura o tesouro que é o homem, por sua vez, Zaqueu, o homem, procura Deus. O primeiro contato é um olhar que desencadeia o diálogo, seguido de um convite que resulta num encontro maravilhoso e transformador.

A leitura do texto bíblico deve considerar o contexto histórico, social e religioso onde está situado. O ensinamento nele contido transcende o tempo, mas sem o contexto o ensinamento bíblico fica enfraquecido. No texto em questão do encontro de Jesus com Zaqueu faz-se necessário ressaltar o ambiente de hostilidade e constrangimento. “Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele (Jesus) foi hospedar-se na cada de um pecador”. 

O nome Zaqueu é uma abreviação de Zacarias, significa “o justo”, o “puro”. O nome ressoa como uma ironia do destino, por ser chefe de cobradores de impostos e muito rico, com fama pública de ser explorador, ser injusto na cobrança de impostos e aliado dos romanos. Portanto, nada de justo e puro. Da parte de Jesus, um pouco antes havia dito: “Como é difícil, para os que possuem riquezas, entrar no Reino de Deus!” (Lc 18, 24). A má fama de Zaqueu tinha fundamento, pois ele mesmo diz: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”.

Se Jesus e Zaqueu se conformassem com os pré-julgamentos existentes e a oposição de “todos” o encontro não teria acontecido e tudo continuaria igual. Tanto Zaqueu quanto Jesus usam os meios que transformam vidas, relações e compreensões. O arcanjo Gabriel já havia afirmado à Maria que “para Deus nada é impossível” e quando os homens encontram Deus coisas impossíveis também acontecem. 

Zaqueu não se conformava em apenas ouvir falar de Jesus, mas “procurava ver quem era Jesus”, queria vê-lo face a face. Nem de deixa bloquear pela baixa estatura e sobe numa árvore expondo-se ao ridículo dos que o conheciam. A partir deste momento a busca de inverte, pois é Jesus que “olhou para cima”, o vê e lhe dirige a palavra: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Jesus o convida de dois modos, com o olhar e a palavra. O olhar é o primeiro modo de comunicação usado por Jesus, o primeiro sinal para dizer-lhe que se interessa por ele. Depois vem a palavra e a primeira delas é Zaqueu. Agora ele não é mais um entre muitos, não é mais um estranho. Foi identificado pelo nome que o distingue das outras pessoas.

Interpelado pessoalmente, Zaqueu é colocado na condição de responder e, bem, mais, de entrar em diálogo com Jesus, de pessoa a pessoa, em igualdade. A segunda palavra é um imperativo “desce depressa”. Jesus convida Zaqueu a deixar seu refúgio para pôr-se a descoberto. Se antes Jesus se aproxima de Zaqueu, toca agora Zaqueu se aproximar de Jesus.

Zaqueu se sente acolhido e respeitado por Jesus. O encontro proporciona-lhe uma revisão da sua vida e a sua relação com os bens materiais. “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres”. Também tem dúvidas se a riqueza acumulada tem origem justa e está disposto a indenizar quem foi prejudicado: “e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. O maravilhoso encontro se conclui com a fala de Jesus. “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, eu vim procurar e salvar o que estava perdido”.

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