Distração patológica?
A vida e o tempo são inseparáveis. Na contabilidade da vida temos o tempo vivido e a subtração do tempo perdido. Bem sabemos, a nossa máquina do tempo não tem marcha à ré. E faz muita falta, especialmente para execução daquilo que não realizamos na hora certa. Assim, poderíamos sanar lapsos, equívocos ou situações erráticas. Na semana passada, troquei as datas e não compareci à Sessão Solene da Academia Passo-fundense de Medicina. Pior, pois o meu nome estava no protocolo para uma homenagem por iniciativa do amigo Dr. Osvandré Lech. E, mais um agravante, o presidente da Academia, conterrâneo e amigo de infância, Dr. Arnaldo Porto Neto convidou-me para a sua mesa. É claro que, dentre os doutos imortais, esse mortal até poderia sentir-se como um plebeu no Palácio de Buckingham.
Mas, com certeza, eu estaria muito à vontade entre doutoras e doutores amigos de longa data. E, ainda, orgulhoso em conviver com os mais renomados especialistas e pesquisadores de um dos principais centros médicos do país. Mas eu não compareci! E agora, será que posso autodiagnosticar uma distração patológica ou alguma perturbação crônica? Dificilmente os acadêmicos aceitariam um laudo assinado por esse charlatão. Então, sem o “R” no câmbio da minha vida, sigo em frente envergonhado e lembro o ensinamento do meu saudoso Pai, Tasso do Amaral Santos, para situações como essa: “peça desculpas”! É o que aqui faço aos amigos Arnaldo Porto Neto, Osvandré Lech e demais imortais da nossa Academia Passo-fundense de Medicina. E, ainda, conto com a benevolência dos acadêmicos para a profilaxia de nossa sempre agradável convivência.
A bolha
Há uma sintomática falta de sintonia no ar que respiramos. Inicialmente, pensei que fosse em consequência da aceleração no meu índice ranzinza que cresce na escala da chatice. Ouço e não compreendo, vejo e não concebo a imagem dentro da lógica que me acompanha há boas décadas. Algumas pessoas conversam citando supostas situações com a mais absoluta convicção. Paro, reflito e pesquiso para compreender que ainda não perdi o carretel da razão. E lá vem mais conversas assustadoras emolduradas em estórias fictícias. A origem disso está nas mensagens, na maioria falsas, que recebem através do zap-zap, acreditam, repicam e sequer param para alinhar com a lógica. Então, quando falam sobre aberrações e seus congêneres, obviamente eu fico boiando, pois não tenho a mínima ideia sobre aquilo que estão falando. Ocorre que essas pessoas já têm uma linguagem própria. É um dialeto formado por longa e sistemática ação dirigida aos ouvidos doutrinados. Como consequência, pensam por ação de estímulos externos e vivem sitiados em uma bolha. E essa bolha não é fruto de nenhuma ficção.
Carne de ouro
A cada Copa do Mundo surgem novidades, modismos e aberrações. Neste ano a badalação foi dourada pela chamada “carne de ouro”. Nada mais do que um churrasco envolto em uma fina lâmina de ouro. A lâmina custa uns R$ 60, enquanto um bom pedaço de carne é bem mais salgado. O efeito visual e a autobadalação do churrasqueiro elevam o valor do prato a patamares estratosféricos. Então virou notícia. Aliás, existem outros alimentos que também utilizam ouro. Ora, é claro que o ouro agrega valor. Porém, sabemos muito bem no que resultará a refeição. Também agregará valor?
Vuvuzelas
Na Copa do Mundo de 2010 surgiram as barulhentas vuvuzelas. Agora, 12 anos depois, continuam infernizando os nossos ouvidos.
Chope
Champanhe (com a devida permissão dos franceses) não pode faltar para os brindes nas festas de final de ano. Mas o que a turma bebe mesmo é o insubstituível chope da Brahma. De acordo com Marco Zandoná, da Disfonte – revenda AmBev, muitos consumidores já contam com chopeiras próprias. Isso facilita muito, pois as chopeiras da Brahma Express já estão esgotadas para o Natal. Na logística cervejeira, o volume disponível de barris não dá conta da demanda desta época. Já para o Réveillon ainda é possível reservar chope e máquinas, mas a lista de espera é grande. Quem tem chopeira própria corre por fora nesta disputa. Já não temos mais a fábrica, mas o vínculo dos passo-fundenses com o chope da Brahma merece muitos brindes.
Trilha sonora
Para ouvir de olho no céu... De Rita Lee e Roberto de Carvalho gravada em 1979 por Elis Regina – Alô, Alô Marciano