Desde que a guerra injustificada da Rússia contra a Ucrânia começou, muitas mudanças no tabuleiro geopolítico ocorreram. Estamos na marca de um pouco mais que 300 dias da guerra, com a ausência de qualquer sinal de que ela terá um fim. Os erros estratégicos russos estão sendo documentados, para serem julgados pela história, mas o inverno rigoroso se aproxima da Ucrânia. Em meio a essa conjuntura, Zelensky passa em Washington para discursar no Congresso americano, sendo a primeira vez que deixa a Ucrânia desde o início da guerra. Na pauta, mais suporte militar à resistência ucraniana. Já são dezenas de milhares de pessoas mortas e quase 8 milhões de ucranianos que fugiram do país, na maior crise imigratória desde a Segunda Guerra Mundial. A infraestrutura básica da Ucrânia foi pesadamente destruída, tais como hospitais, estações de trem e residências. A narrativa nuclear também passou a ter destaque, com ameaças que lembram o tempo da Guerra Fria. Com a estratégia inicial derrubada pela resistência ucraniana, a Rússia começou a investir nas regiões separatistas pró-russas. Em meio às sanções econômicas ocidentais, emergiu a crise energética europeia, com a disparada dos preços do gás. A OTAN se expandiu, com a adesão da Suécia e da Finlândia. Um importante avanço ucraniano se deu com a destruição, em parte, da ponte que liga a Rússia à Crimeia, prejudicando a logística do Kremlin.
Desafios
Entre os maiores desafios que Kiev irá enfrentar nos próximos meses, poderíamos citar: 1) a estratégia do Kremlin de debilitar a infraestrutura energética do país é eficaz e dolorosa. Os mais recentes mísseis, disparados pela Rússia, deixaram milhões de ucranianos sem eletricidade. Metade da infraestrutura energética da Ucrânia foi retirada do ar, na medida em que o frio rigoroso avança, com alertas da Organização Mundial da Saúde. O presidente da maior empresa privada de energia na Ucrânia pediu que os ucranianos deixassem o país, para preservar a energia. Somente um ataque de drone russo na rede elétrica de Odessa deixou 1,5 milhões de ucranianos sem energia. 2) A escalada militar é outro desafio de suma importância. Imagens de satélite mostram aglomerações de tropas e equipamentos russos perto da Bielorússia, na fronteira com a Polônia. Há um temor em Kiev de que Putin some as suas tropas com as de Lukashenko. Mesmo com a fantástica resistência ucraniana, o exército de Zelensky ainda é o mais desfavorecido. Tudo dependerá se Putin está planejando uma nova ofensiva terrestre, enquanto debilita a infraestrutura energética. 3) Outro desafio para Zelensky é se continuará a receber ajuda militar por parte dos EUA, uma vez que o novo Congresso toma posse em janeiro. De acordo com uma sondagem realizada pelo Wall Street Journal, com eleitores do Partido Republicano, 48% acreditam que as ajudas militares são demasiadas, contra 6% em março deste ano. Com a inflação em disparada, pode ser que os eleitores pressionem para que as verbas hoje destinadas à Ucrânia sejam direcionadas para outras situações. A primeira viagem de Zelensky ao estrangeiro, todavia, demonstra que a parceria ainda está ativa, carregando um forte simbolismo. A Ucrânia depende muito dessa ajuda. Os cenários são desafiadores, por todos os lados.