“Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lucas 2, 1-14). Segundo os textos bíblicos, é o primeiro anúncio oficial dado ao mundo do nascimento do Salvador Jesus Cristo. A Igreja, através da solene liturgia do Natal, anuncia para o mundo que “hoje nasceu o Salvador”. A Igreja reafirma com profunda convicção a verdade do Natal de Cristo. Este é o fato histórico que se faz memória. Deste acontecimento brota o dever da evangelização que é precisamente comunicar ao mundo a “boa nova”, o Evangelho.
No Mistério do Natal vemos Deus. Ele veio entregar-se em nossas mãos, viver a condição humana. Santo Irineu (130 + 28/06/202) no tratado Contra as heresias escreve: “O Verbo de Deus pôs a sua morada no meio dos homens e fez-se Filho do homem, para habituar o homem sentir Deus, e para habituar Deus a fazer a sua morada no homem, segundo a vontade do Pai. Por isso, Deus concedeu-nos como ‘sinal’ da nossa salvação Aquele que, nascendo da Virgem, é o Emanuel”. O ensinamento de Santo Irineu indica que temos que nos habituar a sentir Deus nos acontecimentos cotidianos. Normalmente, Deus está distante da nossa vida, das nossas ideias, do nosso agir. Em Jesus Cristo aproximou-se de nós e temos a oportunidade de estar com Deus.
Instigante e ousada é a reflexão do santo dizendo que o Natal também objetiva “habituar Deus a fazer sua morada no homem”. O Natal concretiza a promessa da vinda do Salvador participar da condição humana a tal ponto de se habituar à fragilidade e pobreza humana. Por isso, a vinda do Senhor tem por finalidade nos ensinar a ver e a amar os acontecimentos, o mundo e tudo nos circunda. O mundo é o lugar para viver em plenitude, em paz e em fraternidade. O mundo precisa ser visto com os olhos do próprio Deus e ser transformado a partir da sua bondade e misericórdia.
O evangelista Lucas também registra. “Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria”. O nascimento do Salvador é descrito de forma muito simples e totalmente humana. Muito diferente do que se poderia imaginar, que o Salvador deveria vir de forma extraordinária, como mais tarde dizem a Jesus (João 7,27). Podemos imaginar o cuidado e o amor que moveu Maria naquela hora e naquele lugar improvisado para o parto. A atitude de Maria é descrita com uma breve anotação “o enfaixou e o colocou na manjedoura”. Toda ternura da mãe está expressa nestes simples cuidados.
O nascimento do Salvador aconteceu naquele lugar “pois não havia lugar para eles na hospedaria”. Inúmeros são os sonhos projetados para o próximo ano, desejos de paz, luz, saúde, esperança, entre outros, são expressos. Tudo isto revela que no fundo se deseja a presença de Deus e a sua proximidade. Por outro lado, quando chega o momento de Deus entrar na vida das pessoas elas estão tão ocupadas consigo mesmas e não tem lugar para Ele se hospedar na casa delas.
Natal é tempo de acolher o Menino Jesus, o Salvador, que veio, vem e virá como fez Maria e José, como fizeram os pastores que estavam vigiando os seus rebanhos naquela noite, os magos que partiram do oriente para Belém para oferecerem seus presentes e adorarem o Príncipe da Paz.
Feliz e abençoado Natal de 2022!