OPINIÃO

Muro das lamentações

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O golpe militar de 1964 retirou do poder o presidente João Goulart, eleito em 1960 pelo voto direto. Passaram-se 29 anos de ditadura militar até que o movimento popular das Diretas, Já! arrastasse as multidões, mesmo derrotada no Congresso Nacional a proposta do deputado Dante de Oliveira. Ele propôs o fim do Colégio Eleitoral que estabeleceu a dinastia militarista (de força) por três décadas. A multidão tomou as ruas a partir de maio de 1983 até 1984. Em meio aos movimentos populares consistentes ocorreu o incidente do Rio Centro, onde o atentado terrorista contra a massa operária explodiu no colo dos oficiais da ditadura. O país em crise e inflação acima de 200% ao ano. Veio a lei de anistia em 1979 lideranças banidas juntaram-se ao movimento popular pela democratização. Muitos enfrentamentos dolorosos até a Constituição de 1988 e eleições diretas para presidente da República.

A disputa eleitoral deste ano foi marcada pela polarização de duas candidaturas, Bolsonaro presidente e Lula ex-presidente duas vezes. Temendo a derrota, o atual presidente liderou atos estranhos aos princípios democráticos e tentando debilitar instituições do estado de direito, inclusive a própria Justiça Eleitoral. Com a vitória de Lula, o bolsonarismo se fez inconformado. Formou-se o muro das lamentações políticas e uma linha de protestos que extrapolou limites constitucionais. Mais recentemente o ódio e violência contra o resultado da democracia mostrou excreções como o atentado de Jefferson e ameaça armada de Jorge Washington. Ambas as tentativas frustradas. Às vésperas da posse do novo presidente legitimamente eleito uma minoria manobra criminosamente os cidadãos que exercem o direito de discordar do resultado das urnas. A artimanha irresponsável de comandos ocultos quer usar o povo contra a democracia. Triste delírio!

 

Judiciário

A imprensa livre, instituições democráticas, artistas e o voto cidadão das urnas, no entanto, resistem à tentativa atrabiliária de usurpar o poder emanado do povo. Neste aspecto é preciso assinalar a participação firme da Justiça Eleitoral e do STF, um dos três poderes constituídos da nação. O Judiciário está cumprindo sua missão, resistindo a covardes ameaças.

 

Portas

Uma fratura na mão esquerda, cirurgia e tudo mais, e foram mais de três meses parcialmente imobilizado. Fiquei sabendo, então, que é doloroso e complicado restabelecer as coisas. O médico ortopedista Dr. Marcelo Lemos fez a cirurgia com êxito e sabedoria. Agora conto com a Clínica Petrônio Delgado para a fisioterapia. Assim justifico a demora em registrar a formidável obra literária de Ivaldino Tasca – Portas. Contos do renomado jornalista e escritor, lançado em abril deste ano. Sem arvorar-me ao dom da crítica, faço observações de uma apresentação literária que aprofunda questionamentos, fatos, aspectos de aparência sombria, pragmatismos equivocados e eventos lúdicos propícios à felicidade que, às vezes, insistimos em renunciar. Os textos abordam com leveza, mas minuciosa versão etiológica o comportamento humano na sua amplitude coletiva. As narrativas guardam forma elevada pela clareza e precisão vocabular. Tasca mostra poder de síntese e humor literário. Exibe em cada conto um final surpreendente, desafio difícil para a verve do romantismo. No último parágrafo a revelação que emociona. Texto primoroso. E se pode dizer, de força shakespeariana. A cada palavra fomenta a expectativa do desenlace da história, instigando o imaginário do leitor. Evidencia com narrativa de dignidade o protagonismo da mulher e os acontecimentos de suas vidas, desmistificando pragmatismos conservadores e estúpidos. Ainda que a terminologia empregada seja bela arte da literatura, a gentileza das ideias não ameniza o forte significado do apelo por um olhar mais honesto nas relações humanas. Nada de moralismo rotundo. O escritor adverte: “...São tenebrosas as portas do tempo perdido, do arrependimento, da culpa pelo que podia ter feito e não fez...” Ah! Essa porta das consciências e preocupações. A ilustração é intrigante e artística. Na capa, o cão parece pensar na vida e aguarda que a porta se abra. Ou não! 

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