A primeira coluna de 2023 apresenta a relação de alguns livros lidos no ano que passou. Dentre os doze títulos escolhidos aleatoriamente, dois são do mesmo autor: A Guerra Guaranítica, e ``Mateando - a história da erva-mate e do chimarrão, do historiador Tau Golin. Outros dois escritores rio-grandenses, José Antônio Severo e Márcio Pinheiro, não poderiam ficar de fora. Rato de Redação, do jornalista Márcio Pinheiro, revela os bastidores e a ousadia da equipe do Pasquim, formada entre outros, por Tarso de Castro, Henfil, Jaguar e Millôr Fernandes. A biografia de Catarina, A Grande, lançada no Brasil há uma década, aponta as possíveis inspirações de Vladimir Putin e seus arroubos expansionistas. Se o ano de 2022 foi marcado por lançamentos de consagrados e novos escritores, também deixou órfãos os leitores de Jô Soares e Arnaldo Jabor. O mesmo ocorreu com os de Nélida Cuíñas Piñón, que morreu no dia 17 de dezembro.
Meio Sol Amarelo
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Cia das Letras, 2013.
Baseado em fatos reais transcorridos na década de 1960, este romance da premiada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie revela o grandioso painel sobre indivíduos vivendo em tempos de exceção. Na tentativa de fundação do estado independente de Biafra, um grupo busca provar ao mundo que é capaz de sobreviver e resgatar seus sonhos de independência e integridade moral. O resquício do colonialismo inglês fica evidente na trama que acontece no auge da Guerra Fria.
Rato de redação.
PINHEIRO, Márcio. Matrix Editora, 2022.
Luiz Carlos Maciel, Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Henfil e Paulo Francis; Sérgio Cabral, Ziraldo, Jaguar e Martha Alencar; Sérgio Augusto e Miguel Paiva. Esse timaço, fora outros nomes não menos importantes, fizeram história no Pasquim. O primeiro técnico, responsável pela estratégia de ataque, foi o jornalista gaúcho Tarso de Castro. O jornal nasceu em junho de 1969, sob o signo do deboche. Os altos e baixos do jornal, a repressão, os dribles na censura, as grandes sacadas, o fim de carreira em 1991 e muitas curiosidades são contados neste livro, pelos olhos de um outro jornalista e fã dessa criação que tinha o ratinho Sig como sua mascote.
Pagu no metrô.
REZENDE, Beatriz. Editora Nós, 2022.
Pagu no Metrô pode ser uma obra de ficção, mas tudo ali relacionado à pesquisa é verdade. O alerta é da autora, que tirou uma licença no colégio Pedro II, no Rio, onde é professora, para fazer seu pós-doutorado que envolvia tentar refazer os passos de Patrícia Galvão e descobrir o que aconteceu com a autora de Parque Industrial entre 1934 e 1935, quando ela deixa o então marido Oswald de Andrade e o filho pequeno, Rudá, para se engajar na luta contra o fascismo na Europa. Em 2019, Adriana embarcou para a França e mergulhou nesta investigação, porque uma leitura feita anos antes, que acabava antes do fim, a tinha deixado com a pulga atrás da orelha.
Violeta
ALLENDE, Isabel. Bertrand Editora, 2022.
Contada pelos olhos de uma mulher apaixonada, determinada e com senso de humor, Isabel Allende nos conduz por uma vida turbulenta na forma de um romance épico, inspirador e emocionante. Violeta veio ao mundo em um dia tempestuoso de 1920, a primeira menina em uma família com cinco filhos. Sua família perdeu tudo e foi forçada a se mudar para uma parte mais remota do Chile aonde cresceu. A personagem narra sua história em uma carta a pessoa que mais ama nessa vida, contando decepções e casos amorosos, momentos de pobreza e riqueza, terríveis perdas e imensas alegrias, sempre permeando grandes eventos da história: a luta pelos direitos das mulheres, a ascensão e queda de tiranos.
CASTRO, Rui. Cia das Letras, 2022.
Combinando o melhor da ficção com a reconstituição histórica, Ruy Castro cria uma trama de tirar o fôlego que faz do imperador d. Pedro II o alvo de uma conspiração antimonarquista. Em 1876, d. Pedro II embarcou num vapor rumo aos Estados Unidos para as comemorações do Centenário da Independência americana e passou três meses conhecendo o país. Em Os perigos do imperador, Ruy Castro parte desse episódio verídico e constrói um romance eletrizante, que imagina um atentado fatal contra o monarca orquestrado por republicanos brasileiros.
Catarina, A Grande.
MASSIE, Robert K. Editora Rocco, 2012.
Uma obscura princesa alemã é levada para a Rússia aos 14 anos de idade para casar-se com Pedro III, herdeiro do trono. Prisioneira de um casamento infeliz, Catarina conduz um golpe que irá depor o marido, além de levá-la à coroação, dando o primeiro passo para entrar na história como uma das mais poderosas e marcantes personalidades femininas de todos os tempos. Dona de uma mente brilhante e de uma curiosidade insaciável, Catarina governou por 34 anos, desvendando os mistérios e intrigas da corte. Grande leitora dos pensadores iluministas, manteve uma correspondência com Voltaire e buscou pôr em prática os ideais de um despotismo benevolente, como pregava Montesquieu. Enfrentou rebeliões domésticas, guerras e as mudanças políticas que culminaram na Revolução Francesa. Catarina foi determinante na modernização do império russo, na promoção das artes, no ensino e no alargamento de fronteiras.
A independência Além do Grito
SEVERO, José Antônio. Jornal Já Editora, 2022.
A Independência Além do Grito é o último livro de José Antônio Severo, falecido em setembro de 2021, aos 78 anos. Nele, o autor deu continuidade ao seu trabalho de mais de três décadas sobre temas históricos. Trabalho que rendeu três obras referenciais – Senhores da Guerra, Cinzas do Sul e Rios de Sangue – e agora esse Além do Grito, em que traça um painel monumental dos eventos que culminaram com a Independência do Brasil há exatos 200 anos.
Uma outra Banda Oriental.
CAMPOS, Poti Silveira. Diadorim Editora, 2022.
Relato de viagem do jornalista e escritor Poti Silveira Campos sobre regiões, personagens e locais inusitados do Uruguai, conhecido carinhosamente pelos brasileiros como "paisito". Apresentação de Kledir Ramil e fotografias do autor.
Crônicas de Petersburgo
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Editora 24, 2022.
Há muitas maneiras de ler este livro. Uma delas é reconhecer no texto que Dostoiévski redigiu na juventude para anunciar a revista de humor O Trocista e nos folhetins publicados no jornal Notícias de São Petersburgo, em 1847, alguns traços de estilo ― a dicção veloz, a mescla de registros, a aguda análise psicológica. Outra é simplesmente se deliciar com estas Crônicas de Petersburgo e se deixar levar pelas mãos do genial escritor, que apresenta ao leitor a sua cidade.
O apanhador no campo de centeio
SALINGER, J.D. Todavia, 2019.
Não é exagero afirmar que se trata de um dos romances mais revolucionários do século XX, O apanhador no campo de centeio é a representação definitiva da juventude na literatura. Com mais de 70 milhões de cópias vendidas desde seu lançamento em 1951, o livro influenciou e marcou gerações de leitores com sua visão crua da adolescência, sua prosa ágil e desbocada e seu humor feroz e anárquico.
Anos de Chumbo
BUARQUE, Chico. Cia das Letras, 2021.
Imersos na elogiada atmosfera da ficção de Chico Buarque, caracterizada pela agudeza da observação e a oposição frequente entre o poético e o cômico, os oito contos conduzem o leitor pela sordidez e o patético da condição humana. Com alusões ocasionais à barbárie do presente, o autor ergue um labirinto de surpresas, em que o sexo, a perversidade, o desalento e o delírio são elementos constitutivos da trama.
KRUG, Nora.. Quadrinhos na Cia, 2019.
Vencedor do National Book Critics Circle na categoria autobiografia, Heimat é um romance gráfico brutalmente tocante sobre identidade, história e o significado da palavra “pertencer”.Nora Krug nasceu décadas após a queda do regime nazista, mas a sombra da 2ª Guerra parecia sempre à espreita durante sua juventude. Ela, no entanto, sabia pouco sobre o envolvimento de sua família no conflito, De volta à Alemanha visitou arquivos, realizou pesquisas e entrevistou familiares O resultado é um livro único, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto
A Ilha Misteriosa
VERNE, Júlio. Principis Editora, 2021
Depois de sequestrar um balão de um campo confederado, um grupo de cinco abolicionistas americanos cai das nuvens em uma ilha vulcânica desconhecida no oceano Pacífico. Agora, precisam lutar pela própria sobrevivência. Juntos eles se empenham em construir uma colônia do zero, mas a ilha de recursos abundantes tem segredos inimagináveis que somente a mente criativa de Júlio Verne é capaz de descrever.
A Guerra Guaranítica
GOLIN, Tau. Editora Terceiro Nome, 2014.
Tropas indígenas dos Sete Povos das Missões barraram o avanço de portugueses e espanhóis que redesenharam as fronteiras da América do Sul após a assinatura do Tratado de Madri, em 1750. Os rebeldes resistiram até serem derrotados em 1756. Leitura obrigatória para conhecer os primórdios da unidade da federação mais meridional do Brasil.
GOLIN, Tau. Méritos, 2022.
Este livro conta a história da erva-mate indígena, desde os tempos de exclusivo povoamento dos povos originários na América meridional, seguidos da colonização ibérica até o início do século XVIII. Entre os séculos XVII e XVIII destacam-se os ervais inseridos no conjunto dos costumes desses povos, especialmente no dos Povos Indígenas das conhecidas "Missões Jesuíticas". Os missioneiros, após organizarem os ervais nativos e desvendarem o processo de germinação de sementes, promoveram uma "revolução" botânica que contava com produção de mudas e cultivo de ervais plantados próximos às suas cidades e em territórios estratégicos. Tais sucessos não estiveram imunes a potentes tensões entre os grupos de interesses envolvidos: indígenas, religiosos, colonizadores "proprietários" de terras, bandeirantes portugueses e os governos de Espanha e Portugal.