OPINIÃO

Todos querem ser ESG

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Impossível definir o número exato, embora eu possa imaginar que não seja pequeno, de pessoas que, nos últimos anos, se depararam, voluntária ou involuntariamente, com a sigla ESG ou com alguma hashtag do movimento “woke”. Também, acredito que, não foram tantas, independente de especificidades, aquelas que pararam para refletir sobre os seus significados e, menos ainda, as que se deram por conta de como a estratégia ESG e o movimento “woke” acabariam por se interligar no mundo dos negócios.

A estratégia de reunir boas práticas de gestão, envolvendo questões sociais, ambientais e negócios, emergiu a partir da fusão da teoria dos atores relevantes ou das partes interessadas (stakeholders) com os pilares da teoria da sustentabilidade (social, ambiental e econômica). A sigla ESG (environmental, social e corporate governance), que, na língua portuguesa, pode ser sintetizada na expressão “Governança ambiental, social e corporativa”, ganhou materialidade, em 2004, no relatório “Who Cares Wins - Quem se importa ganha” (disponível em https://www.unepfi.org/fileadmin/events/2004/stocks/who_cares_wins_global_compact_2004.pdf), que foi produzido, via consulta a diversas instituições financeiras, para atender demanda da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

O movimento “woke”, com origem nos EUA, surgiu a partir da percepção da injustiça social e racial cometida contra os negros naquele país. O termo “stay woke” é ligado, historicamente, às lutas do movimento negro americano, tem o sentido de “ficar acordado”, “ficar atento” ou “ficar vigilante” diante de injustiças, mas, ganhou maior amplitude, nos tempos atuais, o abarcar, além da questão racial (caso do movimento Black Lives Matter, #BlackLivesMatter, que assumiu dimensão global em 2014), também causas políticas, culturais e ambientais, desde ideologias, identidade de gênero até a mudança do clima global.

Foi ao ser abraçado pela juventude universitária americana, majoritariamente branca, que frequenta os bancos escolares da Ivy League (Liga da Hera), que reúne as oito universidades da elite acadêmica nos EUA (Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Pennsylvania, Princeton e Yale), que a cultura “woke”, quase uma espécie de “seita religiosa”, voltou-se para o enfrentamento da estrutura de poder que, de forma invisível, ao afetar o universo social, pode causar grandes danos. Mas, apesar de aparentemente bem-intencionados, os “wokers”, por dividirem as pessoas, ao positivarem uma teoria que reduz o indivíduo às características que herdou ao nascer, negando o seu status de liberdade para atuar no mundo, via as chamadas políticas de “cancelamento”, também têm recebido críticas. E, como seria presumível, não passaria incólume ao capital, que, vislumbrou no movimento “woke”, uma nova oportunidade de, legitimamente, “fazer dinheiro”.

A presença do movimento “woke” nas empresas e no mundo dos negócios, com destaque para a ligação “woke” e ESG, foi exaustivamente tratada no livro de Vivek Ramaswamy, “Woke, Inc. - Inside Corporate America´s Social Justice Scam”, de 2021, bestseller do New York Times. O título, ao incluir a expressão “esquema/fraude/truque da justiça social” (“social justice scam”), diz muito. Ramaswamy, biólogo molecular por Harvard e advogado por Yale (não casualmente, duas universidades da Ivy League), não é um acadêmico e sim um empresário bem-sucedido, que, por saber como funciona a elite dos EUA nas áreas acadêmica, negocial e filantrópica, faz uma análise, com razoável plausibilidade, por dentro das corporações americanas, da associação entre negócios e movimento “woke”.

Enfim, para Ramaswamy, o movimento “woke” se faz presente no mundo econômico, que “finge” dar mais atenção às partes interessadas (os stakeholders) do que aos acionistas (os shareholders). E, assim, por todo mundo estar fazendo, especialmente para as companhias de capital aberto, não há melhor opção, que não seja investir em ESG (talvez nem haja outra saída). Mas, quando o fluxo de capital toma, majoritariamente, um rumo, formam-se “bolhas”, que, indiscutivelmente, elevam riscos. Sim, estamos vivendo, pela magnitude dos fundos ESG, uma “Bolha ESG”! Quem alerta é Vivek Ramaswamy, formado com summa cum laude por Harvard.


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