A felicidade é uma aspiração radicada na condição humana e faz parte das suas necessidades fundamentais como o ar, a água, o alimento, a casa, os amigos. Tanto as compreensões quanto os caminhos propostos para alcançar a felicidade são múltiplos. São oferecidas receitas milagrosas; outros acentuam que é preciso potencializar o máximo os prazeres imediatos do corpo; outros ensinam que é preciso controlar os desejos de felicidade pois são a origem de sofrimentos.
Jesus, como mestre, não de abstém de ensinar sobre o que torna a vida bem-aventurada ou feliz. (Mateus 5, 1-12). Proclama bem-aventurados os pobres em espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz e os são perseguidos por causa da justiça. Este ensinamento que vai se aprofundado nos capítulos 5, 6 e 7. Os ensinamentos dirigidos à multidão e aos discípulos sobre o monte, hoje são dirigidos a nós. São ensinamentos atuais e universais. Serão sempre atuais porque eles são uma autobiografia de Jesus, e, consequentemente revelam a Deus Pai e o Espírito Santo.
Devido ao espaço destacamos duas. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”. “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Convivemos com múltiplas formas de violência, desde as mais explícitas até as mais sutis. Há litígios sobre todos os temas, se faz necessário tratar os assuntos como “polêmicos”. Nem o agente da violência e nem a vítima são felizes, vivem exaustos. Os dois necessitam de cuidado e cura.
Durante a vida pública de Jesus apresentaram-se muitas situações conflitivas que poderiam desencadear ensinamentos agressivos da parte de Cristo. Ele sempre manteve a convicção que a violência precisa ser tratada com mansidão. “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,29). A Pedro no Getsêmani diz: “Guarda a espada! Todos os que usam da espada, pela espada perecerão” (Mt 26,52). Entra assim em Jerusalém: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento” (Mt 21, 5) Como resposta à violência Jesus propõe o martírio, isto é, o testemunho da verdade. Diz a Pilatos: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo o que é da verdade, escuta a minha voz” (Jo 18,37).
A primeira bem-aventurança, “os pobres de espírito”, é uma espécie de compêndio, porque retoma e envolve as outras, mas também oferece uma chave de leitura. Na tradição bíblica estas pessoas são chamadas de anavîm. A sua situação de insegurança, de abandono faz com que se voltem a Deus no qual apresentam a sua situação degradante e pedem que Deus seja o seu defensor, pois dos humanos não esperam mais nada.
“Os anawîm são homens reais, que vivem numa situação de necessidade, sofrem abusos e choram. Mas respondem com mansidão às injustiças, se empenham pela paz, fazem uso da misericórdia no julgamento, se esforçam de estabelecer uma justa relação com os homens e com Deus, e procuram a pureza de coração sendo coerentes entre as ações e os pensamentos. Estes são os criadores do mundo novo, as testemunhas do Reino. Porque o Reino dos Céus, do qual se fala nas bem-aventuranças, são outra coisa que o pão que repartimos, a mão estendida ao inimigo, o ato de violência que impedimos, a concórdia que favorecemos, o sorriso que oferecemos” (Massimo Grilli).